domingo, 31 de maio de 2009

A HUMILDADE NOS DISCÍPULOS DE JESUS


Leitura:"O maior entre vós seja como o menor;
e aquele que dirige seja como o que serve "
(Lucas 22.26).

Estudamos a humildade na pessoa e ensinamento de Jesus; vamos agora procurá-la no círculo de Seus companheiros escolhidos: os doze apóstolos. Se, na carência da humildade que achamos neles, o contraste entre Cristo e os homens é tornado mais claro, isso irá nos ajudar a apreciar a poderosa mudança que o Pentecoste fez neles, e prova quão real pode ser nossa participação no triunfo perfeito da humildade de Cristo sobre o orgulho que Satanás soprou para dentro do homem. Nos textos citados do ensinamento de Jesus, já vimos quais foram as ocasiões nas quais os discípulos provaram quão destituídos estavam com relação à gra¬ça da humildade. Uma vez, eles estavam disputando pelo caminho qual deles seria o maior. Outra vez, os filhos de Zebedeu com sua mãe pediram pelos pri¬meiros lugares, sentar à direita e à esquerda do Se¬nhor. E mais tarde, na Santa Ceia, na última noite, houve novamente uma contenda sobre quem seria conside¬rado como o maior. Não que não tenha havido mo¬mentos em que eles realmente se humilharam diante do Senhor. Aconteceu com Pedro quando ele disse: "Senhor, retira-Te de mim, porque sou pecador" (Lc 5.8). E também com os discípulos, quando eles caíram em terra e adoraram o Senhor que havia acalmado a tempestade. Mas essas expressões ocasionais de hu-mildade são apenas um forte contraste em relação ao que era o tom habitual de sua mente, como mostrado na revelação natural e espontânea do lugar e poder do ego dada em outras vezes. O estudo do significado de tudo isso nos ensinará lições mais importantes.
Primeiro, quanto pode haver de religião enérgica e ativa enquanto a humildade ainda é tristemente ausente. Veja isso nos discípulos. Havia neles uma atração intensa por Jesus. Eles haviam abandonado tudo por Ele. O Pai lhes havia revelado que Ele era o Cristo de Deus. Eles creram Nele, eles O amaram, eles obedeceram a Seus mandamentos. Eles abandonaram tudo para seguir o Senhor. Quando outros retrocederam, eles se separaram para o Senhor. Eles estavam prontos para morrer com Ele. Mas mais profundo que tudo isso, havia um poder das trevas, de cuja existência e horribilidade eles raramente estavam conscientes, que de¬veria ser morto e expulso antes que eles pudessem ser as testemunhas do poder de Jesus para salvar.
E ainda é assim. Podemos achar professores e ministros, evangelistas e obreiros, missionários e mes¬tres, em quem os dons do Espírito são muitos e ma¬nifestos, e são canais de bênção para multidões, mas em quem, quando o tempo de testes vem ou uma comunhão mais próxima permite-nos conhecê-los mais plenamente, é apenas dolorosamente óbvio que a graça da humildade, como característica permanen¬te, é raramente vista. Tudo tende a confirmar a lição de que a humildade é uma das principais e supremas graças, uma das mais difíceis de se obter, algo para o que nossos primeiros e principais esforços têm de ser direcionados, algo que vem somente em poder quando a plenitude do Espírito nos faz participantes do Cristo que habita e vive dentro de nós.
Segundo, quão impotentes são todos os ensinamentos externos e esforços pessoais, para vencer o orgulho ou dar o coração manso e humilde. Durante três anos os discípulos estiveram na escola de treinamento de Jesus. Ele lhes disse qual era a lição principal que desejava ensinar-lhes: "Aprendei de Mim, pois sou humilde e manso de coração".
Repetidamente Ele falava a eles, aos fariseus, à multidão, da humildade como o único caminho para a glória de Deus. Ele não tinha apenas vivido diante de¬les como o Cordeiro de Deus em Sua humildade divi¬na; Ele lhes expôs, mais de uma vez, o íntimo segredo de Sua vida: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir"; "Estou entre vós como aque¬le que serve." Ele lavou os pés dos discípulos e lhes disse para seguir Seu exemplo. E tudo isso foi de pou¬co proveito. Na Santa Ceia ainda houve contenda quanto a qual deles seria o maior. Sem dúvida, eles tentaram muitas vezes aprender Suas lições, e firmemente re¬solveram não ofendê-lo novamente. Mas tudo em vão.
Isso deveria ensiná-los e a nós a lição mais ne¬cessária de que nenhuma instrução exterior, nem mes¬mo a dada pelo próprio Cristo; nenhum argumento, por mais convincente que seja; nenhuma percepção da beleza da humildade, por mais profunda que seja; nenhuma decisão pessoal ou esforço, por mais since¬ro e sério que seja, pode expulsar o mal do orgulho. Quando Satanás expulsa Satanás, isso serve apenas para introduzir novamente um poder mais forte, ain¬da que mais oculto. Nada pode ser útil, a não ser isto: que a nova natureza em sua divina humildade seja revelada em poder para tomar o lugar da velha, para tornar nossa natureza tão verdadeira como nunca foi. Terceiro, é apenas pelo habitar de Cristo em Sua divi¬na humildade que nos tornamos verdadeiramente humildes. Temos nosso orgulho que veio de outro, de Adão; temos de ter nossa humildade também de Outro. O orgulho é nosso e governa em nós com seu mui terrí¬vel poder, porque isso é nosso próprio ser, nossa própria natureza. A humildade tem de ser nossa da mesma maneira; ela tem de ser nosso próprio ser, nossa própria natureza. Tão natural e fácil como é ser orgulhoso, tem de ser, e será, ser humilde. A promes¬sa é: "Onde", até mesmo no coração, "abundou o pecado, superabundou a graça".
Todo ensinamento de Cristo aos Seus discípu¬los, e todo esforço inútil deles, foram a preparação necessária para o Senhor entrar neles em poder divi¬no, para dar e ser neles o que Ele os havia ensinado a desejar. Em Sua morte Ele destruiu o poder do mal, Ele afastou o pecado, Ele consumou um redenção eterna. Em Sua ressurreição, Ele recebeu do Pai uma vida completamente nova, a vida de homem revigora¬da pelo poder de Deus, capaz de ser transmitida aos homens, e entrar e renovar e preencher a vida deles com Seu divino poder. Em Sua ascensão Ele recebeu o Espírito do Pai, por meio de quem fez o que não poderia ter feito enquanto sobre a terra: tornar-se um com aqueles que amou; na verdade, viver a vida de¬les por eles, para que pudessem viver diante do Pai em humildade como Ele, pois era Ele quem vivia e respirava neles. E no Pentecoste Ele veio e tomou posse. O trabalho de preparação e persuasão, o des¬pertar do desejo e esperança que Seu ensinamento efetuou, foi aperfeiçoado pela poderosa mudança que fez o Pentecoste. E a vida e epístolas de Tiago, Pedro e João trazem a evidência de que tudo mudou, e de que o espírito do manso e sofredor Jesus havia, de fato, se apoderado deles.
O que podemos dizer dessas coisas? Entre meus leitores, tenho certeza de que há mais de um tipo de pessoa. Deve haver alguns que nunca pensaram ain¬da muito especialmente sobre o assunto, e não po¬dem perceber, de uma vez, sua imensa importância como uma questão de vida para a Igreja e para todos os seus membros. Há outros que se sentiram conde¬nados por suas fraquezas, e se esforçaram, apenas para falhar e ser desencorajados. Outros podem ser capazes de dar alegres testemunhos de bênção e po¬der espirituais, e ainda assim nunca ter havido a con-vicção necessária, a qual aqueles à sua volta perce¬bem ainda estar ausente. E ainda outros podem ser capazes de testemunhar que, no que diz respeito a essa graça, o Senhor deu libertação e vitória, mesmo enquanto Ele os ensinava quanto ainda precisavam da plenitude de Jesus e podiam esperar por ela. Não importando a que classe pertençamos, devo frisar a urgente necessidade que há para toda nossa busca de uma profunda convicção do lugar único que a humildade possui na religião de Cristo , e a absoluta im¬possibilidade de a Igreja ou de o crente ser o que Cristo gostaria que eles fossem, enquanto Sua humil¬dade não é reconhecida como Sua principal glória, Seu primeiro mandamento e nossa mais elevada bênção. Vamos conside¬rar profundamente quão longe os discípulos haviam conseguido ir enquanto essa graça estava ainda tão terrivelmente ausente, e vamos orar a Deus para que somente outros dons não nos satisfaçam, para que nunca nos apeguemos ao fato de que a ausência des¬sa graça é o segredo pelo qual o poder de Deus não pode fazer sua poderosa obra. É somente ali que nós, como o Filho, verdadeiramente sabemos e mos¬tramos que nada podemos fazer por nós mesmos e Deus fará tudo.
É quando a verdade de um Cristo que habita interiormente toma o lugar pelo qual ela clama na experiência dos crentes que a Igreja colocará suas belas vestes e a humildade será vista em seus mestres e membros como a beleza da santidade.

O crente em união com Deus descansa dos argumen¬tos. É difícil para a alma reprimir a argumentação enquanto está alienada de Deus. Ela argumenta porque perdeu o Deus da razão. O crente verda¬deiramente restaurado cessa da argumentação vi¬ciosa e complicada da natureza. A verdadeira sa¬bedoria é desejar conhecer tudo aquilo que Deus deseja que conheçamos; é empregar nossa facul¬dade de percepção e raciocínio sob a direção divi¬na e não buscar nada além deste limite. Você que busca a verdade: tendo exercitado sua razão até descobrir que não existe paz nela, descanse no Deus da razão. O que você não sabe, Deus sabe. Ande com os olhos vendados e Deus, com Sua mão, guiará você.
(T. C. Upham)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A HUMILDADE NO ENSINAMENTO DE JESUS


A HUMILDADE NO ENSINAMENTO DE JESUS
Leitura: "Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração " (Mateus 11.29).
"Quem quiser tornar-se grande entre vós será esse o que vos sirva (...), tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir" (Mateus 20.26,28).

Vimos a humildade na vida de Cristo, como Ele revelou Seu coração para nós. Agora va¬mos ouvir Seu ensinamento. Para tal, deve-mos ouvir como Ele fala disso, e até que ponto Ele espera que os homens, e especialmente Seus discípu¬los, sejam humildes como Ele foi. Vamos estudar cuidadosamente as passagens (as quais raramente faço mais do que citar) para receber a plena impressão de quão frequente e quão seriamente Ele ensinou isso. Isso poderá ajudar-nos a perceber o que Ele requer de nós.

1. Olhe para o início do Seu ministério. Nas bem-aventuranças com as quais o Sermão do Monte começa, Ele falou: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino das céus. (...) Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a ter¬ra" (Mt 5.3, 5). As primeiras palavras de Sua procla¬mação do reino dos céus revelam a única porta aber¬ta através da qual entramos. Para os pobitres, que não . têm nada em si mesmos, vem o reino. Piara os man¬sos, que não buscam nada em si mesmos, será a ter¬ra. As bênçãos dos céus e da terra são para os humil¬des. Para a vida celestial e terrena, a humildade é o segredo de bênção.

2. "Aprendei de Mim, porque sou mnanso e hu¬milde de coração; e achareis descanso para a vossa alma" (11.29). Jesus se ofereceu a Si rrmesmo como Mestre. Ele nos fala que espírito podemos achar Nele como Mestre, o qual também podemos aprender e receber Dele. Mansidão e humildade sãoi a única coi¬sa que Ele nos oferece; nelas acharemos perfeito des¬canso para nossa alma. A humildade foi destinada para ser nossa salvação.

3. Os discípulos disputaram quem seria o maior no reino, e concordaram em perguntar ao Mestre (Lc 9.46; Mt 18.1). Ele colocou uma criança no meio deles e disse: "Aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus" (Mt 18.4 - RC). "Quem é o maior no reino dos céus?" A pergunta é, de fato, de grandes implica¬ções. Qual será a principal distinção no reino dos céus? A resposta, ninguém, a não ser Jesus, poderia ter dado: a principal glória nos céus, a verdadeira inclinação celestial, a principal das graças é a hu¬mildade. "Aquele que é o menor entre vós, esse será o maior (Lc 9.48)".

4. A mãe dos filhos de Zebedeu pediu a Jesus que seus filhos se sentassem à Sua direita e à Sua esquerda, no lugar mais elevado no reino. Jesus disse que não era Ele quem concederia isso, mas o Pai o daria àqueles para quem estava preparado. Eles não devem buscar ou pedir por isso. Seu pensamento tem de estar voltado para o cálice e o batismo da humilha¬ção. E depois, acrescentou: "Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva (...) tal como o Filho do homem, que não veio para ser ser¬vido, mas para servir" (Mt 20.20-28). Como a humil¬dade é a marca de Cristo, o Celestial, ela será o único padrão de glória nos céus: o mais humilde é que esta¬rá mais perto de Deus. A primazia na Igreja é prome¬tida aos mais humildes.

5. Falando, às multidões e aos discípulos, sobre os fariseus e sobre o amor deles pelas primeiras cadei¬ras nas sinagogas, Cristo disse uma vez mais: "O maior dentre vós será vosso servo" (Mt 23.11). A humildade é a única escada para a honra no reino de Deus.

6. Em outra ocasião, na casa de um fariseu, Ele contou a parábola de um convidado que foi chamado para ocupar um lugar mais à frente (Lc 14.7-11), e acrescentou: "Todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado". A exigência é impla-cável. Não há outro caminho. Somente a auto-humi-lhação será exaltada.

7. Depois da parábola do fariseu e do publicano, Cristo falou novamente: "Todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado" (Lc 18.14). No templo, e na presença e na adoração a Deus, tudo o que não é permeado por uma profunda e verdadeira humildade diante de Deus e dos ho¬mens é sem valor.

8. Após ter lavado os pés dos discípulos, Jesus disse: "Se Eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos ou¬tros" (Jo 13.14). A autoridade da liderança e do exem¬plo, todo pensamento, seja de obediência ou confor¬midade, faz da humildade o primeiro e mais essencial elemento do discipulado.

9. À mesa da Santa Ceia, os discípulos ainda disputavam quem seria o maior. Jesus disse: "O maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. (...) No meio de vós, Eu sou como quem serve" (Lc 22.26, 27). O caminho pelo qual Jesus andou, e que Ele nos abriu, o poder e o espírito nos quais Ele operou nossa salvação, e para os quais Ele nos salva, é sempre a humildade, que me faz o servo de todos.

Quão pouco isso é pregado! Quão pouco isso é praticado! Quão pouco a carência disso é sentida ou confessada!, para não dizer quão poucos chegam a isto: a alguma medida considerável de semelhança a Jesus em Sua humildade. Antes, quão poucos pensam em fazer sempre disso um objeto específico de con¬tínuo desejo ou oração. Quão pouco o mundo tem visto isso! Quão pouco isso tem sido visto até mesmo no círculo interior da Igreja.
"Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva." Que Deus nos permita crer que Jesus fala sério! Todos sabemos o que o caráter de um servo ou escravo fiel implica: devoção aos interesses do mestre, estudo cuidadoso e atento para agradá-lo, deleitar-se em sua prosperidade e honra e felicidade. Há servos na terra nos quais essas dispo¬sições são vistas, e para os quais o nome de servo nunca foi nada a não ser glória. Para quantos de nós não tem sido uma nova alegria na vida cristã saber que podemos nos entregar como servos, como escra¬vos a Deus, e descobrir que Seu serviço é nossa mai-or liberdade, a liberdade do pecado e do ego? Preci¬samos agora aprender outra lição: que Jesus nos cha¬ma para ser servos uns dos outros, e que, quando aceitamos isso de coração, esse serviço também será o mais abençoado de todos, uma nova e mais plena libertação também do pecado e do ego.
À primeira vista, isso pode parecer difícil; isso é assim somente por causa do orgulho que ainda se con¬sidera alguma coisa. Se uma vez aprendermos que ser nada diante de Deus é a glória da criatura, o espírito de Jesus, o regozijo dos céus, daremos boas-vindas com todo o coração à disciplina que, porventura, tenhamos ao servir até mesmo aqueles que tentam nos importu¬nar. Quando nosso próprio coração estiver colocado nisto, na verdadeira santificação, estudaremos cada pa¬lavra de Jesus em auto-humilhação com novo deleite, e nenhum lugar será baixo demais e nenhum rebaixamento será profundo demais e nenhum serviço será insignifi¬cante ou prolongado demais se pudermos compartilhar e provar a comunhão com Ele que disse: "Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve" (Lc 22.27).
Irmãos, aqui está o caminho para a vida superior: baixo, mais baixo! Isso foi o que Jesus sempre disse aos discípulos que estavam pensando em ser grandes no reino e em sentar à Sua direita e à Sua esquerda. Não busquem, não peçam por exaltação; isso é traba¬lho de Deus. Olhem para isso para que vocês se hu¬milhem e não tomem diante de Deus ou do homem lugar que não seja o de servo; isso é o trabalho de vocês. Façam com que esse seja seu único propósito e oração. Deus é fiel. Assim como a água busca e preenche o lugar mais baixo, assim também, no mo¬mento em que Deus encontra a criatura rebaixada e esvaziada, Sua glória e poder fluem para exaltar e aben-çoar. Aquele que se humilhou — esse deve ser nosso único cuidado — esse será exaltado. Isso é o cuidado de Deus; pelo Seu poder maravilhoso e em Seu gran¬de amor, Ele fará isso.
Os homens, algumas vezes, falam como se hu¬mildade e mansidão pudessem tirar de nós o que é nobre, e corajoso e viril. Oh, quem dera todos cres¬sem que isso é a nobreza do reino dos céus, que isso é o espírito real que o Rei dos céus exibiu, que isso é semelhança a Deus: humilhar-se, tornar-se o servo de todos! Esse é o caminho para a alegria e para a glória da presença de Cristo em nós, Seu poder re-pousando sobre nós.
Jesus, o Manso e Humilde, nos chama para aprender Dele o caminho de Deus. Vamos estudar as palavras que temos lido, até que nosso coração seja preenchido com o pensamento: "Minha única neces-sidade é a humildade". E vamos crer que o que Ele mostra, Ele dá; o que Ele é, Ele concede. Como Aquele que é Manso e Humilde, Ele virá e habitará no coração desejoso.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A HUMILDADE NA VIDA DE JESUS


Leitura: "No meio de vós, Eu sou como quem serve" (Lucas 22.27).

No Evangelho de João, temos a vida interior de nosso Senhor exposta a nós. Jesus ali fala frequentemente de Seu relacionamento com o Pai, dos motivos pelos quais Ele é guiado, de Sua consciência do poder e espírito nos quais Ele atua. Ainda que a palavra "humilde" não apareça, não há qualquer outro lugar nas Escrituras onde vemos tão claramente em que consistia Sua humildade. Já disse¬mos que essa graça, na verdade, nada é senão o simples consentimento da criatura em permitir que Deus seja tudo, em virtude de entregar-se exclusivamente a Sua operação. Em Jesus, veremos que, tanto como Filho de Deus nos céus como homem na terra, Ele tomou o lugar de total subordinação e deu a Deus a honra e a glória que Lhe são devidas. E o que Ele ensinou tão frequentemente tornou-se verdade para Ele mesmo: "Quem a si mesmo se humilhar será exal¬tado" (Mt 23.12). Como está escrito: "A Si mesmo se humilhou (...) pelo que também Deus O exaltou so¬bremaneira" (Fp 2.8, 9).
Ouça as palavras em que o Senhor fala de Seu relacionamento com o Pai, e veja como incessante¬mente Ele usa as palavras "não" e "nada" para refe-rir-se a Ele mesmo. O "não eu", no qual Paulo ex-pressa sua relação com Cristo, é o mesmo espírito no qual Cristo fala de Sua relação com o Pai.

"O Filho nada pode fazer de Si mesmo" (Jo 5.19).

"Eu nada posso fazer de Mim mesmo (...).

O Meu juízo é justo, porque não procuro a Minha pró¬pria vontade" (v. 30).

"Não aceito glória que vem dos homens" (v. 41).

"Eu desci do céu, não para fazer a Minha pró¬pria vontade" (6.38).

"O Meu ensino não é Meu" (7.16).

"Não vim de Mim mesmo" (v. 28 - RC).

"Nada faço por Mim mesmo" (8.28).

"Não vim de Mim mesmo, mas Ele Me enviou"(8.42 - RC).

"Eu não procuro a Minha própria glória" (v. 50).

"As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim mesmo" (14.10).

"A palavra que estais ouvindo não é Minha" (v. 24).

Essas palavras abrem para nós as raízes mais profundas da vida e da obra de Cristo. Elas nos fa¬lam como foi que o Deus Todo-Poderoso pôde tra¬balhar Sua maravilhosa obra de redenção por meio Dele, Cristo.
Elas mostram o que Cristo considerou como o estado de coração que Lhe cabia como o Filho do Pai. Elas nos ensinam o que são a natureza e vida essenciais dessa redenção que Cristo cum¬priu e agora transmite. É isto: Ele não era nada para que Deus fosse tudo. Ele renunciou a Si mesmo totalmente, com Sua vontade e Suas forças, para que o Pai trabalhasse Nele. De Seu próprio poder, Sua própria vontade, Sua própria glória, de toda a Sua missão com todas as Suas obras e Seu ensinamento — de tudo isso, Ele disse: "Não sou Eu, não sou nada. Eu Me dei totalmente ao Pai para trabalhar; não sou nada, o Pai é tudo".
Cristo descobriu que essa vida de total abnega¬ção, de absoluta submissão e dependência da vontade do Pai era uma vida de perfeita paz e alegria. Ele não perdeu nada dando tudo para Deus. Deus honrou Sua confiança e fez tudo para Ele, e, então, O exaltou à Sua mão direita em glória. E porque Cristo se humi¬lhou assim diante de Deus, e Deus estava sempre diante Dele, Ele achou possível humilhar-se diante dos homens também e ser o Servo de todos. Sua humildade era simplesmente o entregar a Si mesmo a Deus para permitir que Deus fizesse Nele o que O agradasse, não importando o que os homens à Sua volta dissessem Dele ou fizessem a Ele.
É nesse estado de mente, nesse espírito e dis¬posição, que a redenção de Cristo tem sua virtude e eficácia. É para trazer-nos para essa disposição que somos feitos participantes de Cristo. Esta é a verda¬deira abnegação, para a qual nosso Salvador nos cha¬ma: o reconhecimento de que o ego não tem nada de bom em si mesmo, exceto como um recipiente vazio que Deus tem de preencher, e de que sua pretensão de ser ou fazer qualquer coisa não deve, nem por um momento, ser permitida. É nisto, acima e antes de todas as coisas, que consiste a conformidade com Jesus: nada ser e nada fazer de nós mesmos, para que Deus seja tudo.
Aqui temos a raiz e natureza da verdadeira hu¬mildade. Por não entender ou buscar isso é que nossa humildade é tão superficial e tão débil. Temos de aprender de Jesus, que é manso e humilde de cora¬ção. Ele nos ensina onde a verdadeira humildade tem origem e acha sua força: no conhecimento de que é Deus quem opera tudo em todos, que nosso dever é render-nos a Ele em perfeita resignação e dependên¬cia, em pleno consentimento de não ser e não fazer nada por nós mesmos. Esta é a vida que Cristo veio revelar e conceder: uma vida para Deus que veio através da morte para o pecado e para o ego. Se senti¬mos que essa vida é elevada demais para nós e está além de nosso alcance, isso tem de nos tanger ainda mais por buscá-la Nele; o Cristo que nos habita interi¬ormente vai viver essa vida, essa mansidão e essa humildade em nós. Se desejarmos ardentemente por isso, vamos, acima de todas as coisas, buscar o santo segredo do conhecimento da natureza de Deus, en¬quanto Ele trabalha, a todo momento, tudo em todos: o segredo do qual toda a natureza e todas as criaturas e, sobretudo, todo filho de Deus, deve ser a testemu¬nha: nada são senão um vaso, um canal, através do qual o Deus vivo pode manifestar as riquezas de Sua sabedoria, poder e bondade. A raiz de toda virtude e graça, de toda fé e adoração aceitável, é que sabemos que não temos nada que não tenhamos recebido, e reverenciamos, na mais profunda humildade, espe¬rando em Deus para isso.
Foi porque essa humildade não era apenas um sentimento temporário despertado e trazido em exer¬cício quando Ele considerava a Deus, mas era o pró¬prio espírito de toda Sua vida, que Jesus era tão humil¬de em Seu relacionamento com os homens como o era em Seu relacionamento com Deus. Ele se sentiu o Servo de Deus para os homens que Deus fez e amou; como uma consequência natural, Ele se considerou como o Servo dos homens para que, por meio Dele, Deus pudesse fazer Sua obra de amor. Ele nunca, nem por um momento, pensou em buscar Sua própria honra ou em usar Seu poder para vindicar a Si mes¬mo. Seu espírito foi por completo o de uma vida en-tregue a Deus para Ele operar nela. Somente quando os cristãos estudarem a humildade de Jesus como a própria essência da Sua redenção, como a própria bem-aventurança da vida do Filho de Deus, como o único verdadeiro relacionamento com o Pai e, por isso, como aquilo que Jesus tem de nos dar se devemos ter parte com Ele, é que a terrível carência de real, celestial e manifesta humildade se tornará um fardo e um pesar, e só então nossa religião comum será colocada de lado para garantir isso, a primeira e principal das mar¬cas do Cristo dentro de nós.
Irmão, você está revestido de humildade? Per¬gunte ao seu viver diário. Pergunte a Jesus. Pergunte a seus amigos. Pergunte para o mundo. E comece a louvar a Deus, pois lhe foi aberta, em Jesus, uma hu¬mildade celestial que você mal conheceu e, pela qual, uma bênção que você, provavelmente, jamais tenha provado, ainda poderá vir até você.


A visão da glória de Deus produz humildade.
As es¬trelas somem quando o sol aparece.
(Thomas Watson)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

HUMILDADE: O SEGREDO DA REDENÇÃO


HUMILDADE: O SEGREDO DA REDENÇÃO
Leitura: "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, (...) que a Si mesmo se esva¬ziou, assumindo a forma de servo (...) e a Si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus O exaltou sobremaneira" (Filipenses 2.5, 7b-9a).

Nenhuma árvore pode crescer se não for na raiz da qual brotou. Ao longo de toda a sua existência, ela pode viver somente com a vida que estava na semente que lhe deu existência. A ple¬na compreensão dessa verdade em sua aplicação ao primeiro e ao Último Adão nos ajudará grandemente a entender tanto a necessidade como a natureza da redenção que há em Jesus.

A Necessidade
Quando a velha serpente, que foi expulsa dos céus por seu orgulho, cuja natureza completa como diabo era orgulhosa, falou suas palavras de tentação aos ouvidos de Eva, essas palavras levavam consigo o próprio veneno do inferno. E quando ela ouviu, e entregou seu desejo e sua vontade à possibilidade de ser como Deus, conhecendo o bem e o mal, o vene¬no entrou em sua alma, sangue e vida, destruindo para sempre aquela abençoada humildade e depen-dência de Deus que teria sido nossa felicidade per¬pétua. E, em vez disso, sua vida e a vida da raça que brotou dela se tornaram corrompidas desde a raiz com o mais terrível de todos os pecados e maldi¬ções: o veneno do orgulho do próprio Satanás. Todas as desgraças das quais o mundo tem sido o cenário, todas as suas guerras e derramamento de sangue en¬tre as nações, todo o egoísmo e sofrimento, toda a ambição e inveja, todos os seus corações partidos e vidas amarguradas, com toda a sua infelicidade coti-diana, têm sua origem no que este orgulho maldito e infernal — seja o nosso próprio ou o de outros — nos trouxe. É o orgulho que faz a redenção necessária; é do nosso orgulho que precisamos, acima de todas as coisas, ser redimidos! E nossa compreensão da ne¬cessidade de redenção vai depender grandemente de nosso conhecimento da terrível natureza do poder que entrou em nosso ser. Nenhuma árvore pode crescer se não for na raiz da qual brotou. O poder que Satanás trouxe do inferno, e lançou para dentro da vida do homem, está operando diariamente, a todo tempo, com grande po¬der por todo o mundo. Os homens sofrem por sua causa; eles temem e lutam e fogem disso, e ainda não sabem de onde isso vem e de onde provém sua terrí¬vel supremacia! Não é de admirar que eles não sabem onde ou como isso deverá ser vencido. O orgulho tem sua raiz e força em um terrível poder espiritual, tanto fora de nós como dentro; tão necessário como confessá-lo e lamentá-lo como sendo nosso próprio é conhecê-lo em sua origem satânica. Se isso nos leva a um desespero completo de, absolutamente, subju¬gar e expulsar esse orgulho, isso nos levará o quanto antes ao único poder sobrenatural no qual nossa li¬bertação poderá ser encontrada: a redenção do Cor¬deiro de Deus. A batalha desesperada contra a atua-ção do ego e do orgulho dentro de nós pode, real¬mente, tornar-se ainda mais desesperadora quando pensamos no poder das trevas por trás de tudo isso; mas o desespero completo irá preparar-nos melhor para percebermos e aceitarmos um poder e uma vida fora de nós mesmos, que é a humildade dos céus tal como foi trazida para baixo e para perto pelo Cordei¬ro de Deus, a fim de expulsar Satanás e seu orgulho.
Nenhuma árvore pode crescer se não for na raiz da qual brotou. Assim como precisamos olhar para o primeiro Adão e sua queda para conhecer o poder do pecado dentro de nós, precisamos conhe¬cer também o Último Adão e Seu poder para nos dar interiormente uma vida de humildade tão real e per¬manente e dominante quanto tem sido a do orgulho. Temos nossa vida de Cristo e em Cristo, tão verda-deiramente — de fato mais verdadeiramente — como de Adão e em Adão. Temos de andar arraigados Nele "retendo a Cabeça, da qual todo o corpo (...) cresce o crescimento que procede de Deus" (Cl 2.7, 19). A vida de Deus, a qual, na encarnação, entrou na natu¬reza humana, é a raiz na qual devemos estar firmados e crescer; é o mesmo poder grandioso que trabalhou lá e, desde então, ruma para a ressurreição, que traba¬lha diariamente em nós. Nossa única necessidade é estudar e conhecer e confiar na vida que foi revelada em Cristo como a vida que agora é nossa, e espera por nosso consentimento para ganhar possessão e domínio de todo o nosso ser.
Com isso em vista, é de inconcebível impor¬tância que tenhamos pensamentos corretos do que Cristo é — do que realmente O constitui como o Cristo — e especialmente do que pode ser conside¬rado como Sua característica principal, a raiz e a essência de todo Seu caráter como nosso redentor. Não pode haver senão uma resposta: é a Sua humil¬dade. O que é a encarnação, Seu esvaziar a Si mes¬mo e ter-se tornado homem, senão Sua humildade celestial? O que é a Sua vida na terra, Seu assumir a forma de um servo, senão a humildade? E o que é a Sua expiação senão a humildade? "A Si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte" (Fp 2.9). E o que são Sua ascensão e Sua glória senão a humildade exaltada ao trono e coroada de glória? "A Si mesmo se humilhou (...) pelo que também Deus O exaltou sobremaneira" (vs. 8, 9). Nos céus, onde Ele estava com o Pai, em Seu nascimento, em Sua vida, em Sua morte, em Seu assentar-se no trono: tudo isso não é outra coisa a não ser humildade. Cristo é a humildade de Deus incorporada na natu¬reza humana: o Amor Eterno humilhando-se a Si mesmo, revestindo-se com as vestes da mansidão e da bondade para vencer, e servir e nos salvar. Como o amor e condescendência de Deus fazem Dele o benfeitor, e auxiliador e servo de todos, assim, Je-sus, por necessidade, se tornou a Humildade Encar¬nada. E, assim, mesmo no centro do trono, Ele é o manso e humilde Cordeiro de Deus.
Se isso for a raiz da árvore, sua natureza tem de ser vista em cada ramo, folha e fruto. Se a humildade for a primeira, a graça todo-inclusiva da vida de Jesus - se a humildade for o segredo de Sua expiação -, então, a saúde e a força de nossa vida espiritual de-penderão inteiramente de colocarmos essa graça em primeiro lugar também, e fazer da humildade a princi¬pal coisa que admiramos Nele, a principal coisa que pedimos Dele, a única coisa pela qual sacrificamos tudo o mais .
É de se admirar que a vida cristã seja tão fre¬quentemente fraca e infrutífera, se a própria raiz do Cristo-vida é negligenciada, é desconhecida? É de se admirar que a alegria da salvação seja tão pouco ex¬perimentada, se aquela atitude em que Cristo a en¬controu e a trouxe é tão pouco procurada? Até que uma humildade que descansará em nada menos do que o fim e a morte do ego — que renuncia a toda honra dos homens, como Jesus fez, para buscar a hon¬ra que vem somente de Deus; que se considera e faz de si mesmo absolutamente nada, para que Deus possa ser tudo, para que somente o Senhor seja exaltado — até que tal humildade seja o que buscamos em Cristo, acima de nossa maior alegria, e seja bem-vinda a qual¬quer preço, há muito pouca esperança de que haja uma religião que vencerá o mundo.
Eu não poderia pleitear com demasiada serieda¬de com meu leitor, se, por ventura, sua atenção ainda não se tenha voltado, de maneira especial, à falta de humildade que há dentro e em torno dele, para parar e questionar se ele vê muito do espírito do manso e humilde Cordeiro de Deus naqueles que são chamados pelo Seu nome. Que ele considere como toda carência de amor, toda indiferença às necessidades, aos sentimentos, à fraqueza de outros, todo julgamento e expressão severa e precipitada — que, tantas vezes, se justificam sob o argumento de se ser franco e ho¬nesto —, todas as manifestações de temperamento, sen¬sibilidade e irritação e todos os sentimentos de amar¬gura e desavença têm sua raiz em nada senão no or¬gulho, que sempre busca a si mesmo! Então, seus olhos serão abertos para ver como um orgulho tene¬broso, para não dizer um orgulho diabólico, penetra em quase todo lugar, sem excluir as assembleias dos santos. Que ele comece a questionar qual seria o efeito dentro dele e naqueles à sua volta se os crentes esti¬vessem, de fato, sendo permanentemente guiados pela humildade de Jesus no relacionamento tanto com os santos como com o mundo; e que ele diga se o cla¬mor de todo o nosso coração, noite e dia, não teria de ser: "Que a humildade de Jesus esteja em mim e em todos ao meu redor!" Que ele enfoque seu coração honestamente em sua própria carência daquela hu¬mildade que foi revelada na semelhança da vida de Cristo e em todo o caráter de Sua redenção, e ele começará a sentir como se nunca tivesse realmente conhecido o que são Cristo e Sua salvação.
Crente, estude a humildade de Jesus! Esse é o segredo, a raiz oculta da sua redenção. Aprofunde-se nela cada dia. Creia com todo o seu coração que esse Cristo, a quem Deus lhe deu, assim como Sua humil¬dade divina fez o trabalho para você, também entrará para habitar e operar em você e para fazer o que o Pai deseja que você seja.
Andrew Murray

terça-feira, 12 de maio de 2009

Deus no seu trabalho


O calendário do Céu tem sete domingos por semana. Deus santifica cada dia. Ele realiza seu santo trabalho em todas as horas e em todos os lugares. Ele torna o comum em algo incomum, virando pias em santuários, restaurantes em conventos, e dias de trabalho em aventuras.

Dias de trabalho? Sim, dias de trabalho. Ele ordenou seu trabalho como algo bom. Antes que Deus deu a Adão uma esposa ou filho, até antes que ele o vestiu, Deus deu a Adão um trabalho. “O SENHOR Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.” Gênesis 2:15 (NVI). Inocência, não indolência caracterizou a primeira família.

Deus vê o trabalho como merecedor do seu próprio mandamento: “Trabalhe seis dias, mas descanse no sétimo...” Êxodo 34:21 (NVI). Nós gostamos da segunda metade daquele versículo. Mas, ênfase no dia de descanso pode nos levar a perder de vista o mandamento de trabalhar: “Trabalhe seis dias”. Queira você trabalhar em casa ou no mercado, seu trabalho é importante para Deus.

E seu trabalho é importante para a sociedade. Precisamos de você! Cidades precisam de encanadores. Nações precisam de soldados. Semáforos param de funcionar. Ossos quebram. Necessitamos de pessoas para concertar o primeiro e reparar o segundo. Alguém precisa criar filhos e cuidar dos filhos que são mal criados.

Seja como for que você começa o dia, quando você trabalha você imita a Deus. O próprio Senhor trabalhou nos primeiros seis dias da criação. Jesus disse “Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando”. (João 5:17 NVI). Sua carreira consome metade da sua vida. Ela não devia refletir Deus? Aquelas quarenta a sessenta horas por semana não pertencem a ele também?

A Bíblia nunca promove a compulsão pelo trabalho ou o emprego obcecado como alívio para dor. Mas, Deus chama todos que estão em condições físicas a cultivarem os jardins que ele deu. Deus honra o trabalho. Então honre a Deus em seu trabalho. “Para o homem não existe nada melhor do que comer, beber e encontrar prazer em seu trabalho.” (Eclesiastes 2:24 NVI)

domingo, 10 de maio de 2009

Mulher e mãe



Nos tempos do Antigo Testamento, a dignidade da mulher dependia dos filhos que gerava, especialmente dos filhos homens e da quantidade de filhos. Ser mãe era o que tornaria a mulher um ser humano reconhecido. Esse contexto nós podemos conferir na história de Ana. Ana era estéril e, por isso, seu marido Elcana tinha o direito de se casar com outra mulher. Só muito tarde Ana gerou filhos - um primogênito, homem, chamado Samuel. Mas Penina, a outra esposa de Elcana, gerou 10 filhos. Ela tinha muito orgulho da sua maternidade (1 Sm 1-2).

Também Sara, casada com Abraão, era estéril. Então, juntos decidiram que teriam uma criança através de sua escrava egípcia Hagar. Assim nasceu Ismael. Mais tarde também Sara teve uma criança, um primogênito, filho homem, chamado Isaque (Gênesis 16 e 21). Outra mulher que enfrentou uma dura luta para se tornar reconhecida foi Tamar - "tataravó" de Jesus (Mateus 1). Ficou viúva duas vezes e sem filhos. Sofreu injustiça por parte de seu sogro que a fez voltar para a casa de sua mãe. Mas encontrou uma saída: vestiu-se como prostituta e ficou na beira da estrada numa ocasião em que seu sogro Judá foi à cidade. Então ela teve gêmeos de Judá (Gênesis 38). Há também as irmãs Lia e Raquel, ambas casadas com o primo Jacó. Lia foi abençoada com seis filhos e uma filha. E Raquel, depois de sofrer amargamente com a esterilidade, gerou José e Benjamim. Jacó teve mais quatro filhos com as servas das esposas, Bila e Zilpa (Gênesis 29-30).

Depois, temos uma grande mãe no Novo testamento: Maria. Maria é a mãe que sintetiza muito bem um novo tipo de maternidade. Ela é uma jovem mulher que concebe uma criança em condições de mistério, que não tem reconhecimento da sociedade. Fica sozinha. Prestes a perder seu noivo. Depois, dá à luz em condições precárias. Revela-se profetiza e corajosa. É uma mulher inteligente e presente na vida de Jesus e educa seu filho com desapego, preocupação e liberdade.

Uma mãe desesperada é a mãe cananéia que busca cura para a sua filha, implorando a Jesus que olhe por ela. Teve tremenda coragem, pois debateu com Jesus e fez com que Jesus mudasse de idéia (Mt 15.21). É assim: a mãe que tem uma filha doente move montanhas e conceitos!

Em outras ocasiões também Deus se revela como uma mãe (veja: Is 42.14; 49.15; 66.13). E, além de todas estas mães, não nos esqueçamos do quarto mandamento que pede que toda a mãe seja respeitada e honrada. Assim seja!


Anete Roese
Um parceiro Melodia
www.melodia.com.br

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sede, sim, e de Deus


Usemos a imaginação.
A corça grita pela corrente das águas.
E nós nos perguntaríamos: por que grita a corça pela corrente das águas?
Eu me responderia: porque ela tem sede.
Sim, isso parece claro, porque logo depois o salmista dirá que tem “sede” de Deus, com o que, se a poesia é construída de inter-relações e paralelismos, os dois, a corça e o salmista, têm sede – ainda que de grandezas e profundezas diferentes.
Por que, então, a corça grita pela corrente das águas justo agora, que tem sede...? Eu responderia: vai ver ela já teve sede um dia, já bebeu das águas um dia, quando isso aconteceu, as águas das quais bebeu mataram-lhe a sede, e agora, quando de novo tem sede, porque se lembra de que as águas lhes matam a sede, grita por elas... Se é por isso, não sei, mas faz sentido. Imaginemos que o seja...
Então o que teríamos?
Teríamos uma corça que no passado teve sede, lá e então bebeu das águas, e a sede “desmaiou”. Agora, aqui e agora, tem sede de novo. Movida pela memória, pela saudade, pela nostalgia, quer das águas. Seu desejo é que daqui a pouco as encontre, beba delas, mitigue a sede devoradora da paz, e fique bem...
Temos três “tempos” nessa nossa brincadeira teológica com a corça: passado, presente, futuro.
No passado, a sede a o mitigar da sede. No presente, só a sede e o grito pelas águas. No futuro, o sonho de a sede ter sido mitigada.
Quero brincar um pouco mais, advertindo que para mim, Teologia se faz de duas maneiras – ou brincando, ou guerreando: opto pela brincadeira, pelo lúdico, pelo prazer, pela vida, o que implica em ser “tolerante”, pacífico, ter boa vontade, paciência... Vamos lá: se o salmista compara sua sede à da corça, ainda que ela tenha sede de água, enquanto ele, de Deus, será no que resulta transportar para a sede do salmista a mesma estrutura de tempo – presente, passado, futuro – em sua relação com Deus e sua sede?
Não fico surpreso em constatar que se o fizermos, chegaremos à conclusão de que a sede de Deus comporta-se como a sede da corça por água. Se temos sede, agora, no presente, é porque, ontem, quer dizer, no passado, tivemos uma “experiência” com Deus – gosto de usar a expressão “encontro com o sagrado”. Mas se tivemos essa experiência, por que temos sede de Deus agora? Eu diria que é porque o sagrado não é, em essência, apreensível, capturável. Ele passa por nós, como a água por nossa garganta... mas se vai logo, também como a água. E então sentimos “sede”, como de água, e porque sabemos que Deus mata essa sede, queremos “bebê-lo” de novo.
Resulta a surpresa de que Deus está no passado, e, desejamos – temos sede – estará no futuro. Mas, surpreendentemente, a julgar pela comparação do salmista, no presente, não, só sede, só saudade, só desejo...
As pesquisas com Fenomenologia da Religião constatam essa “ausência” essencial e natural de Deus no presente. Na experiência humana, o sagrado dá-se a perceber, a “conhecer” – num sentido especial – mas nunca ontologicamente, nunca absolutamente, nunca essencialmente. É capturado pela experiência, traduzido pelas estruturas de interpretação do indivíduo, verbalizado em expressões teológicas... Mas tudo isso resulta em um discurso que é humano, porque Deus mesmo, que Deus é e não discurso humano, fica lá, na experiência, aquela que tivemos, agora há pouco, que seja, ma lá, não cá, porque cá e agora, só sede, saudade e desejo... Gosto desse negócio de Fenomenologia da Religião... Talvez porque tenha sede, muita sede... Romantismo? Misticismo? Fenomenologia!
Essa sede tem-na, então, quem teve uma “experiência” com o sagrado – e há inúmeras, talvez tantas e de tantas formas quanto tantos são os seres humanos e suas cabeças-corpos-culturas. É uma sede profunda, no corpo e na alma, no todo em que consiste o homem, e é tão grave que gera caminhos alternativos para um “poço” onde haja água para a mitigar. São, contudo, poços como a da mulher samaritana – boa água, mas apenas água. Ah se ela soubesse...
Um poço assim é a ortodoxia. A experiência com o sagrado foi interpretada, objetivada e verbalizada.
Virou agora sistema de referência doutrinário e sistema de valores.
Parece que tem de ser assim, porque parece que o ser humano é assim, foi feito ou tornou-se nisso que é, e é assim, cria mundos, gera sentido, estabelece valores.
O problema é que quando vai sentir aquela sede, pode achar que a pode matar com esse sistema que cria – sistema de doutrinas e de valores. E, pior ainda, pode cismar que sede de Deus só se mata assim, e só com esse sistema, e só com esses valores.
A ortodoxia, boa que é, como tudo quanto é bom, pode tornar-se um tropeço – um arrimo falso, por isso mesmo um tropeço...
É necessário um sistema de doutrinas; é incontornável um sistema de valores; mas nenhum dos dois pode permitir-se substituir o “sagrado”, que não cabe neles, que não depende deles, porque eles são desenvolvimentos interpretativos humanos a partir de uma experiência tida como com o sagrado, mas não são nem por isso “o sagrado”.
Viva a ortodoxia, se ela é viva! Mas se ela se agarra a si mesma, se se idolatra a si mesma, se se diviniza a si mesma, e se em nome de si mesma pega, mata e come, vade retro...
Ah, mas há outro poço – o da utopia.
Diferente da ortodoxia, que se agarra ao que aí está, a utopia se agarra ao que não está aí. Tão necessária quanto a ortodoxia, a utopia pode, também, tornar-se um câncer. É boa porque é sonho, sonho que pode catalisar o melhor de todos nós... mas também o pior. Os revolucionários todos eles são guiados por utopias, e viva os revolucionários se são vivos, mas se se agarram a seus sonhos como se foram “os deuses” ou “o Deus”, ai ai! Utopistas há que se fazem de profetas, e misturam seus sonhos com o que seria, também, sonho de Deus, e não sei porque caminhos chegaram a eles, posto que os sonhos de Deus, se chegamos a eles, como saberemos? Mas os utopistas o sabem, muito bem, e só eles, e saiam da frente em nome de Deus aqueles que lhes estorvarem o caminho de realizarem, eles mesmos, os sonhos de Deus, que são deles, profetas... posto que para isso nasceram: saberem e realizarem os planos de Deus (?)...
Acho que a sede de Deus impede de nos agarrarmos às ortodoxias e às utopias como se fossem elas deuses-ímas, ou como se fôssemos nós carrapichos. Devemos conviver com as ortodoxias na plena dinâmica das relações indivíduo-instituição, difíceis, sempre. Devemos deixar-nos contagiar pelas utopias, motores fundamentais da caminhada humana pela Terra. Mas acima de tudo, acho que devemos estar sempre alertas para o fato de que a sede de que somos tomados (se) é de Deus, (então) jamais será mitigada, só “desmaiada”, e que todas as ortodoxias juntas e todas as utopias reunidas sequer podem – por mais que sejamos tentados a tanto, e malgrado todos os "profetas" de ontem e de hoje – substituir a experiência inefável, intraduzível, irrepetível com o sagrado.

O bom é sentir sede. Diria que nisso se traduz a saúde do espírito.