terça-feira, 12 de maio de 2009

Deus no seu trabalho


O calendário do Céu tem sete domingos por semana. Deus santifica cada dia. Ele realiza seu santo trabalho em todas as horas e em todos os lugares. Ele torna o comum em algo incomum, virando pias em santuários, restaurantes em conventos, e dias de trabalho em aventuras.

Dias de trabalho? Sim, dias de trabalho. Ele ordenou seu trabalho como algo bom. Antes que Deus deu a Adão uma esposa ou filho, até antes que ele o vestiu, Deus deu a Adão um trabalho. “O SENHOR Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.” Gênesis 2:15 (NVI). Inocência, não indolência caracterizou a primeira família.

Deus vê o trabalho como merecedor do seu próprio mandamento: “Trabalhe seis dias, mas descanse no sétimo...” Êxodo 34:21 (NVI). Nós gostamos da segunda metade daquele versículo. Mas, ênfase no dia de descanso pode nos levar a perder de vista o mandamento de trabalhar: “Trabalhe seis dias”. Queira você trabalhar em casa ou no mercado, seu trabalho é importante para Deus.

E seu trabalho é importante para a sociedade. Precisamos de você! Cidades precisam de encanadores. Nações precisam de soldados. Semáforos param de funcionar. Ossos quebram. Necessitamos de pessoas para concertar o primeiro e reparar o segundo. Alguém precisa criar filhos e cuidar dos filhos que são mal criados.

Seja como for que você começa o dia, quando você trabalha você imita a Deus. O próprio Senhor trabalhou nos primeiros seis dias da criação. Jesus disse “Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando”. (João 5:17 NVI). Sua carreira consome metade da sua vida. Ela não devia refletir Deus? Aquelas quarenta a sessenta horas por semana não pertencem a ele também?

A Bíblia nunca promove a compulsão pelo trabalho ou o emprego obcecado como alívio para dor. Mas, Deus chama todos que estão em condições físicas a cultivarem os jardins que ele deu. Deus honra o trabalho. Então honre a Deus em seu trabalho. “Para o homem não existe nada melhor do que comer, beber e encontrar prazer em seu trabalho.” (Eclesiastes 2:24 NVI)

domingo, 10 de maio de 2009

Mulher e mãe



Nos tempos do Antigo Testamento, a dignidade da mulher dependia dos filhos que gerava, especialmente dos filhos homens e da quantidade de filhos. Ser mãe era o que tornaria a mulher um ser humano reconhecido. Esse contexto nós podemos conferir na história de Ana. Ana era estéril e, por isso, seu marido Elcana tinha o direito de se casar com outra mulher. Só muito tarde Ana gerou filhos - um primogênito, homem, chamado Samuel. Mas Penina, a outra esposa de Elcana, gerou 10 filhos. Ela tinha muito orgulho da sua maternidade (1 Sm 1-2).

Também Sara, casada com Abraão, era estéril. Então, juntos decidiram que teriam uma criança através de sua escrava egípcia Hagar. Assim nasceu Ismael. Mais tarde também Sara teve uma criança, um primogênito, filho homem, chamado Isaque (Gênesis 16 e 21). Outra mulher que enfrentou uma dura luta para se tornar reconhecida foi Tamar - "tataravó" de Jesus (Mateus 1). Ficou viúva duas vezes e sem filhos. Sofreu injustiça por parte de seu sogro que a fez voltar para a casa de sua mãe. Mas encontrou uma saída: vestiu-se como prostituta e ficou na beira da estrada numa ocasião em que seu sogro Judá foi à cidade. Então ela teve gêmeos de Judá (Gênesis 38). Há também as irmãs Lia e Raquel, ambas casadas com o primo Jacó. Lia foi abençoada com seis filhos e uma filha. E Raquel, depois de sofrer amargamente com a esterilidade, gerou José e Benjamim. Jacó teve mais quatro filhos com as servas das esposas, Bila e Zilpa (Gênesis 29-30).

Depois, temos uma grande mãe no Novo testamento: Maria. Maria é a mãe que sintetiza muito bem um novo tipo de maternidade. Ela é uma jovem mulher que concebe uma criança em condições de mistério, que não tem reconhecimento da sociedade. Fica sozinha. Prestes a perder seu noivo. Depois, dá à luz em condições precárias. Revela-se profetiza e corajosa. É uma mulher inteligente e presente na vida de Jesus e educa seu filho com desapego, preocupação e liberdade.

Uma mãe desesperada é a mãe cananéia que busca cura para a sua filha, implorando a Jesus que olhe por ela. Teve tremenda coragem, pois debateu com Jesus e fez com que Jesus mudasse de idéia (Mt 15.21). É assim: a mãe que tem uma filha doente move montanhas e conceitos!

Em outras ocasiões também Deus se revela como uma mãe (veja: Is 42.14; 49.15; 66.13). E, além de todas estas mães, não nos esqueçamos do quarto mandamento que pede que toda a mãe seja respeitada e honrada. Assim seja!


Anete Roese
Um parceiro Melodia
www.melodia.com.br

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sede, sim, e de Deus


Usemos a imaginação.
A corça grita pela corrente das águas.
E nós nos perguntaríamos: por que grita a corça pela corrente das águas?
Eu me responderia: porque ela tem sede.
Sim, isso parece claro, porque logo depois o salmista dirá que tem “sede” de Deus, com o que, se a poesia é construída de inter-relações e paralelismos, os dois, a corça e o salmista, têm sede – ainda que de grandezas e profundezas diferentes.
Por que, então, a corça grita pela corrente das águas justo agora, que tem sede...? Eu responderia: vai ver ela já teve sede um dia, já bebeu das águas um dia, quando isso aconteceu, as águas das quais bebeu mataram-lhe a sede, e agora, quando de novo tem sede, porque se lembra de que as águas lhes matam a sede, grita por elas... Se é por isso, não sei, mas faz sentido. Imaginemos que o seja...
Então o que teríamos?
Teríamos uma corça que no passado teve sede, lá e então bebeu das águas, e a sede “desmaiou”. Agora, aqui e agora, tem sede de novo. Movida pela memória, pela saudade, pela nostalgia, quer das águas. Seu desejo é que daqui a pouco as encontre, beba delas, mitigue a sede devoradora da paz, e fique bem...
Temos três “tempos” nessa nossa brincadeira teológica com a corça: passado, presente, futuro.
No passado, a sede a o mitigar da sede. No presente, só a sede e o grito pelas águas. No futuro, o sonho de a sede ter sido mitigada.
Quero brincar um pouco mais, advertindo que para mim, Teologia se faz de duas maneiras – ou brincando, ou guerreando: opto pela brincadeira, pelo lúdico, pelo prazer, pela vida, o que implica em ser “tolerante”, pacífico, ter boa vontade, paciência... Vamos lá: se o salmista compara sua sede à da corça, ainda que ela tenha sede de água, enquanto ele, de Deus, será no que resulta transportar para a sede do salmista a mesma estrutura de tempo – presente, passado, futuro – em sua relação com Deus e sua sede?
Não fico surpreso em constatar que se o fizermos, chegaremos à conclusão de que a sede de Deus comporta-se como a sede da corça por água. Se temos sede, agora, no presente, é porque, ontem, quer dizer, no passado, tivemos uma “experiência” com Deus – gosto de usar a expressão “encontro com o sagrado”. Mas se tivemos essa experiência, por que temos sede de Deus agora? Eu diria que é porque o sagrado não é, em essência, apreensível, capturável. Ele passa por nós, como a água por nossa garganta... mas se vai logo, também como a água. E então sentimos “sede”, como de água, e porque sabemos que Deus mata essa sede, queremos “bebê-lo” de novo.
Resulta a surpresa de que Deus está no passado, e, desejamos – temos sede – estará no futuro. Mas, surpreendentemente, a julgar pela comparação do salmista, no presente, não, só sede, só saudade, só desejo...
As pesquisas com Fenomenologia da Religião constatam essa “ausência” essencial e natural de Deus no presente. Na experiência humana, o sagrado dá-se a perceber, a “conhecer” – num sentido especial – mas nunca ontologicamente, nunca absolutamente, nunca essencialmente. É capturado pela experiência, traduzido pelas estruturas de interpretação do indivíduo, verbalizado em expressões teológicas... Mas tudo isso resulta em um discurso que é humano, porque Deus mesmo, que Deus é e não discurso humano, fica lá, na experiência, aquela que tivemos, agora há pouco, que seja, ma lá, não cá, porque cá e agora, só sede, saudade e desejo... Gosto desse negócio de Fenomenologia da Religião... Talvez porque tenha sede, muita sede... Romantismo? Misticismo? Fenomenologia!
Essa sede tem-na, então, quem teve uma “experiência” com o sagrado – e há inúmeras, talvez tantas e de tantas formas quanto tantos são os seres humanos e suas cabeças-corpos-culturas. É uma sede profunda, no corpo e na alma, no todo em que consiste o homem, e é tão grave que gera caminhos alternativos para um “poço” onde haja água para a mitigar. São, contudo, poços como a da mulher samaritana – boa água, mas apenas água. Ah se ela soubesse...
Um poço assim é a ortodoxia. A experiência com o sagrado foi interpretada, objetivada e verbalizada.
Virou agora sistema de referência doutrinário e sistema de valores.
Parece que tem de ser assim, porque parece que o ser humano é assim, foi feito ou tornou-se nisso que é, e é assim, cria mundos, gera sentido, estabelece valores.
O problema é que quando vai sentir aquela sede, pode achar que a pode matar com esse sistema que cria – sistema de doutrinas e de valores. E, pior ainda, pode cismar que sede de Deus só se mata assim, e só com esse sistema, e só com esses valores.
A ortodoxia, boa que é, como tudo quanto é bom, pode tornar-se um tropeço – um arrimo falso, por isso mesmo um tropeço...
É necessário um sistema de doutrinas; é incontornável um sistema de valores; mas nenhum dos dois pode permitir-se substituir o “sagrado”, que não cabe neles, que não depende deles, porque eles são desenvolvimentos interpretativos humanos a partir de uma experiência tida como com o sagrado, mas não são nem por isso “o sagrado”.
Viva a ortodoxia, se ela é viva! Mas se ela se agarra a si mesma, se se idolatra a si mesma, se se diviniza a si mesma, e se em nome de si mesma pega, mata e come, vade retro...
Ah, mas há outro poço – o da utopia.
Diferente da ortodoxia, que se agarra ao que aí está, a utopia se agarra ao que não está aí. Tão necessária quanto a ortodoxia, a utopia pode, também, tornar-se um câncer. É boa porque é sonho, sonho que pode catalisar o melhor de todos nós... mas também o pior. Os revolucionários todos eles são guiados por utopias, e viva os revolucionários se são vivos, mas se se agarram a seus sonhos como se foram “os deuses” ou “o Deus”, ai ai! Utopistas há que se fazem de profetas, e misturam seus sonhos com o que seria, também, sonho de Deus, e não sei porque caminhos chegaram a eles, posto que os sonhos de Deus, se chegamos a eles, como saberemos? Mas os utopistas o sabem, muito bem, e só eles, e saiam da frente em nome de Deus aqueles que lhes estorvarem o caminho de realizarem, eles mesmos, os sonhos de Deus, que são deles, profetas... posto que para isso nasceram: saberem e realizarem os planos de Deus (?)...
Acho que a sede de Deus impede de nos agarrarmos às ortodoxias e às utopias como se fossem elas deuses-ímas, ou como se fôssemos nós carrapichos. Devemos conviver com as ortodoxias na plena dinâmica das relações indivíduo-instituição, difíceis, sempre. Devemos deixar-nos contagiar pelas utopias, motores fundamentais da caminhada humana pela Terra. Mas acima de tudo, acho que devemos estar sempre alertas para o fato de que a sede de que somos tomados (se) é de Deus, (então) jamais será mitigada, só “desmaiada”, e que todas as ortodoxias juntas e todas as utopias reunidas sequer podem – por mais que sejamos tentados a tanto, e malgrado todos os "profetas" de ontem e de hoje – substituir a experiência inefável, intraduzível, irrepetível com o sagrado.

O bom é sentir sede. Diria que nisso se traduz a saúde do espírito.