segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Piscina e a Cruz


Ele sempre via ali um homem que lhe chamava a atenção: ele tinha o costume de correr até a água e molhar só o dedão do pé. Depois subia no trampolim mais alto e com um esplêndido salto mergulhava na água. Era um excelente nadador.Não era de estranhar, pois, que meu amigo ficasse intrigado com esse costume de molhar o dedão antes de saltar na água.

Um dia tomou coragem e perguntou-lhe a razão daquele hábito. O homem sorriu e respondeu: "Sim, eu tenho um motivo para fazer isso. Há alguns anos, eu era professor de natação de um grupo de homens. Meu trabalho era ensiná-los a nadar e a saltar de trampolim. Certa noite não conseguia dormir e fui à piscina para nadar um pouco; sendo o professor de natação, eu tinha uma chave para entrar no clube.

"Não acendi a luz porque conhecia bem o lugar. A luz da lua brilhava através do teto de vidro. Quando estava sobre o trampolim, vi minha sombra na parede em frente. Com os braços abertos, minha silhueta formava uma magnifica cruz. Em vez de saltar, fiquei ali parado, contemplando aquela imagem."

O professor de natação continuou: "Nesse momento, pensei na cruz de Jesus Cristo e em seu significado. Eu não era um cristão, mas quando criança aprendi um cântico cujas palavras me vieram a mente e me fizeram recordar que Jesus tinha morrido para nos salvar por meio de seu precioso sangue".

"Não sei quanto tempo fiquei parado sobre o trampolim com os braços estendidos e nem compreendo por que não pulei na água. Finalmente voltei, desci do trampolim e fui até a escada para mergulhar na água. Desci a escada e meus pés tocaram o piso duro e liso ... na noite anterior haviam esvaziado a piscina e eu não tinha percebido!"

"Tremi todo e senti um calafrio na espinha. Se eu tivesse saltado, seria meu último salto. Naquela noite, a imagem da cruz na parede salvou a minha vida. Fiquei tão agradecido a Deus - que por me amar permitiu que eu continuasse vivo - que me ajoelhei na beira da piscina. Tomei consciência de que não somente a minha vida física, mas minha alma também precisava ser salva. Para que isso acontecesse, foi necessária outra cruz, aquela na qual Jesus morreu para nos salvar. Ele me salvou quando confessei os meus pecados e me entreguei a Ele".

"Naquela noite fui salvo duas vezes, física e espiritualmente. Agora tenho um corpo sadio, porém o mais importante é que sou eternamente salvo. Talvez agora você compreenda porque eu molho o dedão antes de saltar na água".

sexta-feira, 24 de abril de 2009

HUMILDADE: A GLÓRIA DA CRIATURA



Leitura: "E depositarão as suas coroas diante do trono, proclamando: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de rece¬ber a glória, a honra e o poder, porque todas as cousas Tu criaste, sim, por causa da Tua vontade vieram a existir e foram criadas" (Apocalipse 4.10c, 11).

Quando Deus criou o universo, Ele o fez com o único objetivo de tornar a criatura partici¬pante de Sua perfeição e bem-aventurança e, assim, mostrar nela a glória do Seu amor, sabedoria e poder. Deus desejava revelar a Si mesmo dentro e por meio dos seres criados, comunicando-lhes tanto de Sua própria bondade e glória quanto eles fossem capazes de receber. Mas essa comunicação não significava dar à criatura algo que ela pudesse possuir em si mesma, uma vida ou bondade das quais tivesse a responsabilidade e a disposição. De forma alguma! Mas como Deus é eterno, onipresente e onipotente, e sustenta todas as coisas pela palavra do Seu poder, e em quem todas as coisas existem, a relação da criatura com Deus somente poderia ser uma relação de ininterrupta, absoluta e universal dependência. Tão certo como Deus, pelo Seu poder, criou uma vez, assim também, pelo mesmo poder, Deus nos sustenta a cada momento. A criatura não tem somente de olhar para trás, para a origem e para os primórdios da exis-tência, e reconhecer que todas as coisas vêm de Deus; seu principal cuidado, sua virtude mais elevada, sua única felicidade, agora e por toda a eternidade, é apre¬sentar a si mesma como um vaso vazio, no qual Deus possa habitar e manifestar Seu poder e bondade.
A vida que Deus entregou é concedida não de uma vez, mas a cada momento, continuamente, pela operação incessante de Seu grandioso poder. A humil¬dade, o lugar da plena dependência de Deus, é, pela própria natureza das coisas, a primeira obrigação e a virtude mais elevada da criatura, e a raiz de toda virtude.
O orgulho, ou a perda dessa humildade, então, é a raiz de todo pecado e mal. Foi quando os anjos agora caídos começaram a olhar para si mesmos com autocomplacência que foram levados à desobediên¬cia, e foram expulsos da luz do céu para as trevas exteriores. E também foi quando a serpente exalou o veneno do seu orgulho, o desejo de ser como Deus, no coração de nossos primeiros pais, que eles tam¬bém caíram da sua posição elevada para toda a des-graça na qual o homem está, agora, afundado. No céu e na terra, orgulho — auto-exaltação — é a porta, o nascimento e a maldição do inferno3.
Por isso, nossa redenção tem de ser a restaura¬ção da humildade perdida, o relacionamento original e o verdadeiro relacionamento da criatura com seu Deus. E, portanto, Jesus veio trazer a humildade de volta à terra, fazer-nos participantes dessa humildade e, por ela, nos salvar. Nos céus, Ele se humilhou para tornar-se homem. Nós vemos a humildade Nele ao se dominar a Si mesmo nos céus; Ele a trouxe, de lá. Aqui na terra, "a Si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte". Sua humildade deu à Sua mor¬te o valor que ela hoje tem e, então, se tornou nossa redenção. E agora a salvação que Ele concede é, nada mais, nada menos do que uma comunicação de Sua própria vida e morte, Sua própria disposição e espíri¬to , Sua própria humildade, como o solo e a raiz de Sua relação com Deus e Sua obra redentora. Jesus Cristo tomou o lugar e cumpriu o destino do homem, como uma criatura, por Sua vida de perfeita humilda¬de. Sua humildade é nossa salvação. Sua salvação é nossa humildade.
Assim, a vida dos salvos, dos santos, tem neces¬sariamente de exibir o selo de libertação do pecado e plena restauração do seu estado original; todo seu relacionamento com Deus e com o homem tem de ser marcado por uma humildade que a tudo permeia. Sem isso, não se pode permanecer verdadeiramente na presença de Deus ou experimentar do Seu favor e o poder do Seu Espírito; sem isso não há fé, ou amor, ou regozijo ou força permanentes. A humildade é o único solo no qual a graça enraíza-se; a falta de hu¬mildade é a suficiente explicação de todo defeito e fracasso. A humildade não é apenas uma graça ou virtude como outras; ela é a raiz de todas, pois so¬mente ela toma a atitude correta diante de Deus, e permite que Ele faça tudo.
Deus nos fez seres de tal modo racionais que, quanto mais discernirmos a natureza real ou a neces¬sidade absoluta de uma ordem, tanto mais pronta e plena será nossa obediência a ela. O chamado para a humildade tem sido muito pouco considerado na Igreja porque sua verdadeira natureza e importância tem sido muito pouco compreendida. Humildade não é algo que apresentamos para Deus ou que Ele concede; é simplesmente o senso do completo nada-ser que vem quando vemos como Deus verdadeiramente ê tudo, e no qual damos caminho a Deus para ser tudo. Quando a criatura percebe que esta é a verdadeira nobreza, e consente ser com sua vontade, sua mente e seus afetos — a forma, o vaso no qual a vida e a glória de Deus estão para trabalhar e manifestar a si mesmas, ela vê que humildade é simplesmente conhecer a verdade de sua posição como criatura e permitir a Deus ter Seu lugar.
Na vida dos cristãos sérios, aqueles que buscam e professam a santidade, a humildade tem de ser a marca principal de sua retidão. É frequentemente dito que isso não é assim. Não poderia ser uma razão para isso o fato de que, no ensinamento e exemplo da Igreja, a humildade nunca teve o lugar de suprema importância que lhe pertence? E que isso, por sua vez, é devido à negligência desta verdade: que, forte como é o pecado como um motivo para humildade, há uma influência mais ampla e mais poderosa, a qual faz os anjos, a qual fez Jesus, a qual faz o mais santo dos santos nos céus tão humildes: que a primeira e principal marca do relacionamento da criatura, o se¬gredo de sua bem-aventurança, é a humildade e o nada-ser que permitem que Deus seja tudo?
Tenho certeza de que há muitos cristãos que confessarão que sua experiência tem sido muito pare¬cida com a minha nisto: que por muito tempo conhecemos o Senhor sem perceber que a mansidão e a humildade de coração devem ser os aspectos distinti¬vos do discípulo assim como foram do Mestre. E, além disso, que essa humildade não é algo que virá por si mesma, mas deve ser feita o objeto de especial desejo, e oração, e fé e prática. Ao estudar a Palavra, veremos quais instruções distintas e repetidas Jesus deu a Seus discípulos nesse ponto, e como eles eram vagarosos em compreendê-Lo. Vamos, logo no início de nossa meditação, admitir que não há nada tão natu¬ral para o homem, nada tão insidioso e oculto de nos¬sa visão, nada tão difícil e perigoso como o orgulho. Vamos sentir que nada, a não ser uma espera deter¬minada e perseverante em Deus e Cristo revelará como estamos carentes da graça da humildade, e quão dé¬beis somos para obter o que buscamos. Vamos estu¬dar o caráter de Cristo até nossa alma estar cheia de amor e admiração por Sua humildade. E vamos crer que, quando temos a percepção de nosso orgulho e de nossa impotência para expulsá-lo, o próprio Jesus Cristo virá para dar essa graça também como parte de Sua maravilhosa vida dentro de nós.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

TENHO ANDADO NA TUA PRESENÇA COM CORAÇÃO PERFEITO


Como a simplicidade de uma criança, é essa co­munhão com Deus! Quando o Filho estava às portas da morte, Ele orou: "Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; e ago­ra, glorifica-me, óPai, contigo mesmo" (João 17:4,5).

Jesus Cristo baseou Sua vida e Sua obra fundamen­tando Sua espera na resposta à oração que apresentou. Semelhantemente suplicou Ezequias, o servo de Deus, não à base do mérito pessoal, naturalmente, mas na confiança que Deus "não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome" (Hebreus 6:10), e que Deus se lembraria de como ele andara na Sua pre­sença com coração perfeito.
Essas palavras, antes de mais nada, nos sugeremeste pensamento, que o homem que anda com cora­ção perfeito diante de Deus, pode ter conhecimento disso — isso pode ser uma questão consciente para ele.
Examinemos agora o testemunho que as Escri­turas nos apresentam do rei Ezequias (II Reis 18:3-6): "Fez ele o que era reto perante o SENHOR, segundo tudo o que fizera Davi, seu pai." Seguem-se, então, os diferentes elementos de sua vida que eram retos no parecer do Senhor. "Confiou no SE­NHOR Deus de Israel... se apegou ao SENHOR, não deixou de segui-lo. Guardou os mandamentos que o SENHOR ordenara a Moisés. Assim foi o SENHOR com ele." Sua vida se caracterizou pela confiança e amor, constância e obediência. E o senhor esteve sempre com ele.
Ezequias foi um dos santos a res­peito dos quais lemos: "pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho" (Hebreus 11:2). Esse é o testemunho bíblico de que foram retos, de que suas vidas foram agradáveis aos olhos de Deus.
Procuremos ter essa consciência abençoada. Paulo a manifestou ao escrever: "Porque a nossa gló­ria é esta: o testemunho da nossa consciência, de que com santidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas na graça divina, temos vivido no mundo, e mais especialmente para convosco" (II Coríntios 1:12).O apóstolo João também a expressou quando disse: "Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus; e aquilo que pedimos dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável" (I João 3:21,22). Se quisermos gozar de perfeita paz e confiança, então temos de andar na ousadia santa e na glória bendita a que as Escrituras se referem, e saber que nosso coração é perfeito para com Deus.
A oração de Ezequias sugere uma segunda lição — que a consciência do coração perfeito nos dá um maravilhoso poder na oração. Leiamos novamente as palavras dessa oração, e notemos quão distintamen­te Ezequias baseou-se no seu andar de coração perfeito para com o Senhor. Por isso acabamos de citar I João, onde claramente ele diz que "aquilo que pedimos, dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos." É o coração que não nos condena, e que sabe que é perfeito perante Deus, que nos proporciona essa ousadia.
Provavelmente não há um único leitor destas linhas que não possa testificar quão dolorosamente, em certas ocasiões, a consciência de que o seu cora­ção não era perfeito para com Deus, serviu de obstá­culo para a confiança na oração.
Além disso surgiu noções errôneas sobre o que seja um coração perfeito, e sobre o perigo da justiça própria, quando o crente ora à semelhança de Ezequias Em muitos casos isso tem contribuído para banir toda idéia que é pos­sível algum dia alcançar aquela ousadia e confiante certeza a resposta às orações, e que João liga a um coração que não nos condena.
Oxalá desistíssemos de todos os nossos precon­ceitos e aprendêssemos a aceitar a Palavra de Deus tal como ela se encontra, como a única regra de nos­sa fé, como a única medida de nossa expectação. Nossas orações diárias seriam um novo lembrete de que Deus requer um coração perfeito; seriam uma nova ocasião de confissão sincera quanto ao fato de estarmos andando ou não com um coração perfeito diante do Senhor; seriam um novo motivo para fazer nada menos que o padrão de nossa comunhão com nosso Pai celestial.
Como a nossa ousadia na presen­ça de Deus seria muito mais definida; como nossa consciência de Sua aceitação seria mais luminosa; como o pensamento de nossa nulidade seria revivificado, e como a certeza de Seu poder nas nossas fra­quezas, e de sua resposta às nossas orações, seriam a alegria de nossa existência.No meio de toda consciência de imperfeição e de realizações falhas, temos o consolo de dizer com simplicidade de uma criança: "Lembra-te, Senhor, peço-te, de que andei diante de ti com fidelidade, com in­teireza de coração, e fiz o que era reto aos teus olhos."

Andrew Murray