segunda-feira, 22 de junho de 2009

HUMILDADE E PECADO

Leitura: "Pecadores, dos quais eu sou o principal" (1Ti¬móteo 1.15).

A humildade é frequentemente identificada com penitência e contrição. Como consequência, parece não haver outra maneira de cultivar a humildade a não ser mantendo a alma ocupada com seu pecado. Aprendemos, penso, que a humildade é algo diferente e além disso. Vimos no ensinamento de nosso Senhor Jesus e das epístolas do Novo Tes¬tamento quantas vezes a virtude é mostrada sem ne¬nhuma referência ao pecado. Na própria natureza das coisas, na relação completa da criatura com o Criador, na vida de Jesus como Ele a viveu e a compartilha conosco, a humildade é a própria essência da santi¬dade como o é da bênção. Isso é a destituição do ego pela entronização de Deus. Onde Deus é tudo, o ego é nada.
Mas, apesar de esse ser o aspecto da verdade que senti ser especialmente necessário destacar, pre¬ciso dizer, de maneira rápida, o que a profundeza e intensidade do pecado do homem e da graça de Deus dão à humildade dos santos. Temos apenas de olhar para um homem como o apóstolo Paulo para ver como, através de sua vida como um homem remido e santo, ele vive inextinguivelmente a profunda percepção de ter sido um pecador. Conhecemos as passagens nas quais ele se refere à sua vida como um perseguidor e blasfemo. "Eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a Igreja de Deus. (...) Trabalhei muito mais do que to¬dos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus comi¬go." (1 Co 15.9, 10). "A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios..." (Ef 3.8). "A mim que noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na igno¬rância, na incredulidade. (...) Cristo Jesus veio ao mun¬do para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." (1 Tm 1.13, 15). A graça de Deus o salvou; Deus nunca mais se lembrou do seu pecado; mas Paulo nunca, nunca poderia esquecer quão terrivelmente havia pecado. Quanto mais ele se regozijava na salva¬ção de Deus, e mais sua experiência da graça de Deus o preenchia com alegria indizível, mais clara era sua percepção de que ele era um pecador salvo, e de que a salvação não tinha significado ou doçura, exceto pelo fato de ele ser um pecador fazer com que isso lhe fosse precioso e real. Nunca, nem por um mo¬mento, ele poderia esquecer que foi um pecador que Deus tomou nos braços e coroou com Seu amor.
Os textos que acabamos de citar são frequente¬mente citados como a confissão de Paulo de seu diá¬rio pecar. Você tem apenas de lê-los atentamente em seu contexto, para ver quão pouca relação eles têm com isso. Esses versículos têm um significado am¬plamente profundo, pois se referem ao que dura pela eternidade e dará seu profundo e suave som de as¬sombro e adoração à humildade com a qual o remido adora diante do trono, como aquele que foi lavado de seus pecados no sangue do Cordeiro. Nunca, nunca, nem mesmo na glória, eles podem ser outra coisa a não ser pecadores redimidos; nunca, nem por um momento nessa vida, o filho de Deus pode viver na luz plena de Seu amor a não ser quando sente que o pecado, do qual foi salvo, é seu único direito e título para tudo que a graça prometeu fazer. A humildade com a qual primeiro ele apareceu como um pecador diante de Deus adquire um novo significado quando ele aprende como ela o tornou uma criatura. E depois, continuamente, a humildade, na qual ele nasceu como uma criatura, tem sua mais profunda, mais rica forma de adoração, na memória de que deve ser um monumento do maravilhoso amor redentor de Deus.
A verdadeira importância do que essas expres¬sões de Paulo nos ensinam vêm-nos todas mais fortes quando reparamos o notável fato de que, através de toda a sua trajetória cristã, nunca achamos, da ponta de sua pena, nem mesmo naquelas epístolas em que temos suas mais intensas confissões pessoais, qual¬quer coisa como confissão de pecado. Em nenhum lugar há menção de fraqueza ou defeito, em nenhum lugar alguma sugestão aos seus leitores de que ele tenha falhado em obrigação ou tenha pecado contra a lei do perfeito amor. Ao contrário, há passagens, não poucas, nas quais ele vindica a si mesmo em lingua-gem que nada significa se não apela para uma vida sem falta diante de Deus e dos homens. "Vós e Deus sois testemunhas do modo por que piedosa, justa e irrepreensivelmente procedemos em relação a vós outros que credes." (1 Ts 2.10). "Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que com santidade e sinceridade de Deus, não com sabe¬doria humana, mas na graça divina, temos vivido no mundo, e mais especialmente para convosco." (2 Co 1.12). Isso não é um ideal ou uma inspiração; é um apelo para aquilo que sua verdadeira vida foi. Por mais que possamos considerar essa falta de confissão de pecado, todos admitirão que isso tem de apontar para uma vida no poder do Espírito Santo, tanto que rara¬mente é percebida ou esperada em nossos dias.
O ponto que desejo enfatizar é este: que o pró¬prio fato da carência de tal confissão somente dá mais força para a verdade de que não é no pecar diário que o segredo da humildade profunda será encontrado, mas na habitual posição, nunca, nem por um momen¬to, pode ser esquecida, a qual tão-somente a mais abundante graça manterá mais distintamente vivo e ativo o fato de que nosso único lugar, o único lugar de bênção, nossa única posição de habitar diante de Deus, tem de ser aquela daqueles cuja maior alegria é confessar que são pecadores salvos pela graça.
Com a profunda recordação de Paulo de haver pecado tão terrivelmente no passado, antes de a gra¬ça encontrá-lo, e a consciência de ser guardado de pecar presentemente, estava continuamente ligada à lembrança permanente do poder oculto do pecado sempre pronto para aparecer, e só afastado pela pre¬sença e poder do Cristo que habita interiormente. "Em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum": essas palavras de Romanos 7 descrevem a carne como ela será para sempre. A gloriosa liberta¬ção de Romanos 8.2 — "A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus me livrou da lei do pecado", a qual me havia capturado — não é nem a aniquilação nem a santificação da carne, mas uma vitória contínua dada pelo Espírito quando Ele mortifica os feitos do cor¬po. Como a saúde expele a doença, e a luz traga as trevas e a vida vence a morte, o habitar interior de Cristo através do Espírito é a saúde e luz e vida da alma. Mas com isso, a convicção da possibilidade de abandono e perigo sempre tempera a fé de alguém na ação passageira ou contínua do Espírito Santo, dan-do-lhe aquele senso simples de dependência que faz a fé superior e alegra as criaturas com uma humilda¬de que vive apenas pela graça de Deus.
Todas as três passagens anteriormente citadas mostram que foi a maravilhosa graça dada a Paulo, e da qual ele sentia necessidade a todo momento, que o humilhava tão profundamente. A graça de Deus que estava nele e o capacitava a laborar mais abundante¬mente do que todos os outros, a graça para pregar aos idólatras as insondáveis riquezas de Cristo, a graça que sobrepujava abundante com a fé e o amor que estão em Cristo Jesus: isso era essa graça da qual é a própria natureza e glória ser para pecadores, a qual mantinha tão intensamente viva a consciência de ele ter pecado uma vez e de ser sujeito a pecar. "Onde abundou o pecado, superabundou a graça" (Rm 5.20). Isso revela quanto a própria essência da graça é tratar com o pe¬cado e afastá-lo, e como ela deve sempre ser: quanto mais abundante a experiência de graça, mais intensa consciência de ser um pecador. Não é o pecado, mas é a graça de Deus mostrando a um homem e sempre o lembrando de que foi pecador que irá mantê-lo ver¬dadeiramente humilde. Não é o pecado, mas é a graça que me fará, de fato, conhecer-me como um pecador, e irá fazer do lugar da mais profunda auto-humilhação do pecador o lugar que nunca deixarei.
Temo que haja muitos que, pelas fortes expres¬sões de autocondenação e auto-acusação, têm busca¬do humilhar-se, e têm de confessar, com pesar, que um espírito humilde — um "coração de humildade", que é acompanhado de bondade e compaixão, de man-sidão e tolerância - ainda está tão longe como sempre esteve. Estar ocupado com o ego, mesmo na mais profunda auto-aversão, não pode nunca nos livrar do ego. E a revelação de Deus, não apenas pela lei con¬denando o pecado, mas pela Sua graça libertando dele, que nos fará humildes. A lei pode quebrar o coração com temor, mas é apenas a graça que trabalha aquela doce humildade que se torna uma alegria para a alma como sua segunda natureza. Foi a revelação de Deus em Sua santidade, aproximando-se para fazer a Si mesmo conhecido em Sua graça, que fez Abraão e Jacó, Jó e Isaías, curvarem-se tão baixo. É a alma na qual Deus, o Criador, como o Tudo da criatura no nada-ser desta, Deus, o Redentor, em Sua graça, como o Tudo do pecador em sua pecaminosidade, é espera¬do e confiado e adorado, que irá encontrar a si mes¬mo tão preenchido com Sua presença, que não haverá lugar para o ego. Somente, então, a promessa pode¬rá ser cumprida: "A altivez do homem será rebaixada, e só o Senhor será exaltado naquele dia" (Is 2.11).
Isso é o pecador habitando na plena luz do amor redentor e santo de Deus, na experiência daquele habi¬tar interior pleno do amor divino que vem através de Cristo e do Espírito Santo, que não pode ser nada a não ser humilde. Não estar ocupado com o pecado, mas estar ocupado com Deus, traz-nos libertação do ego.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

HUMILDADE E SANTIDADE


HUMILDADE E SANTIDADE
Leitura: "Povo que diz Fica onde estás, porque sou mais santo que tu" (Isaías 65.5).

Falamos sobre o Movimento de Santidade em nosso tempo, e louvamos a Deus por isso. Ou vimos de muitos buscadores da santidade e mestres da santidade, de ensinamento de santidade e reuniões de santidade. As verdades abençoadas da santidade em Cristo, e santidade pela fé, estão sendo enfatizadas como nunca antes. O maior teste para ver¬mos se a santidade que professamos buscar ou atingir é verdade e vida será ela ser manifestada na humildade cres-cente que ela produz. Na criatura, a humildade é a única coisa necessária para permitir que a santidade de Deus habite nela e brilhe através dela. Em Jesus, o Santo de Deus que nos faz santos, a humildade divina era o segredo de Sua vida, de Sua morte e de Sua exaltação.
O único teste infalível da nossa santidade será a hu¬mildade diante de Deus e dos homens que nos carac¬teriza. A humildade é a força e a beleza da santidade.
A principal marca da santidade falsificada é sua falta de humildade. Todo aquele que busca a santida¬de precisa estar vigiando, a fim de que não aconteça que, inconscientemente, o que foi começado no es¬pírito seja aperfeiçoado na carne e o orgulho rasteje onde sua presença é menos esperada. Dois homens foram ao templo para orar: um era um fariseu, o outro era um publicano. Não há posição ou lugar mais sa¬grado, mas o fariseu pode entrar lá. O orgulho pode chegar-lhe à cabeça dentro do próprio templo de Deus, e fazer da adoração a Ele a cena da auto-exaltação do fariseu. Desde que Cristo expôs o orgulho do fariseu, este pôs a veste do publicano , e o confessor de pro¬funda pecaminosidade, bem como o que professava a santidade mais elevada, deve estar alerta. Apenas quan¬do estamos muitíssimo ansiosos para ter nosso cora¬ção como um templo de Deus, poderemos encontrar os dois homens subindo ao templo para orar. E o publicano constatará que o perigo para si não é proveniente do fariseu ao seu lado, que o despreza, mas do fariseu interior que elogia e exalta. No templo de Deus, quando pensamos que estamos no Santo dos Santos, na presença de Sua santidade, vamos acautelar-nos do orgulho. "Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles" (Jó 1.6).
"Ó Deus, graças Te dou porque não sou como os demais homens (...) nem ainda como este publicano" (Lc 18.11). O ego acha razão para sua satisfação na¬quilo que é apenas o motivo para as ações de graças, nas próprias ações de graça que rendemos a Deus e na própria confissão de que Deus fez tudo isso. Sim, até mesmo no templo, quando a linguagem de peni¬tência e confiança somente na misericórdia de Deus é ouvida, o fariseu pode começar a louvar e, agrade¬cendo a Deus, estar congratulando a si mesmo. O orgulho pôde vestir-se com vestes de louvor ou de penitência. Até quando as palavras: "Não sou como os demais homens" são rejeitadas e condenadas, o espí¬rito delas pode também, muitas vezes, ser encontrado em nossos sentimentos e linguagem diante de outros adoradores e homens como nós. Se você deseja saber se isso é realmente assim, apenas ouça a maneira como as igrejas e os cristãos geralmente falam uns dos ou¬tros. Quão pouco da mansidão e bondade de Jesus é vista. Tão pouco é lembrado de que a humildade pro¬funda tem de ser o princípio predominante do que os servos de Jesus dizem deles mesmos ou uns dos ou¬tros. Não há muitas igrejas ou assembleia de santos, muitas missões ou conferências, muitas sociedades ou comitês, até mesmo muitas missões nas distantes terras de idolatria, nas quais a harmonia tem sido per¬turbada e a obra de Deus impedida, porque os ho¬mens que são considerados santos provaram em suscetibilidade, precipitação e impaciência, em auto-defesa e auto-afirmação, em julgamentos severos e palavras grosseiras, que eles não consideram outros melhores que eles mesmos, e que sua santidade não tem pouco da mansidão dos santos?
Em sua história espiritual, os homens podem ter tido momentos de grande humilhação e quebranta¬mento, mas isso é muito diferente de ser revestido de humildade, de ter um espírito humilde, de ter a hu-mildade de mente em que cada um considera a si mes¬mo o servo dos outros e, assim, mostra publicamente a própria mente que está também em Jesus Cristo.
"Fica onde estás, porque sou mais santo que tu!" Que paródia sobre a santidade! Jesus, o Santo, é o Humilde: o mais santo será sempre o mais humilde. Não há nenhum santo a não ser Deus: temos tanto de santidade quanto temos de Deus. E de acordo com o que temos de Deus, essa será nossa real humildade, pois a humildade não é nada senão o desaparecimen¬to do ego na visão de que Deus é tudo. O mais santo será o mais humilde. Ah! Apesar da ostentação auda¬ciosa dos judeus dos dias de Isaías não ser encontra¬da frequentemente — até nossa conduta nos ensinou a não falar assim-, quantas vezes seu espírito ainda é visto, quer no tratamento com nossos companheiros santos, quer no tratamento com os filhos do mundo. No espírito no qual opiniões são dadas, e trabalho é empreendido, e faltas são expostas, quantas vezes, apesar de a aparência ser a daquele publicano, a voz ainda é a do fariseu: "O Deus, graças Te dou porque não sou como os demais homens".
E há, então, tamanha humildade a ser encontra¬da, pela qual os homens, de fato, considerem a si mesmos "menores que o menor de todos os santos" (Ef 3.8), os servos de todos? Há. "O amor não se ufana, não se ensoberbece, não procura os seus inte¬resses" (1 Co 13.4, 5). Onde o espírito de amor é derramado amplamente no coração, onde a natureza divina vem para um pleno começo, onde Cristo, o manso e humilde Cordeiro de Deus, é verdadeira¬mente formado no interior, aí é dado o poder de um perfeito amor, que esquece de si mesmo e acha sua bênção em abençoar outros, em suportá-los e honra-los, não importa quão fracos sejam. Onde esse amor entra, Deus entra. E onde Deus entrou em Seu po¬der, e revela a Si mesmo como Tudo, a criatura torna-se nada. E onde a criatura se torna nada diante de Deus, ela não pode ser nada a não ser humilde diante de outras criaturas como ela. A presença de Deus torna-se não algo ocasional, de tempos ou tempora-das, mas a cobertura sob a qual a alma sempre habita, e seu profundo rebaixamento diante de Deus torna-se o santo lugar de Sua presença de onde todas as palavras e obras dela procedem.
Que Deus nos ensine que nossas opiniões e palavras e sentimentos com respeito aos outros ho¬mens são Seu teste de nossa humildade diante Dele, e que nossa humildade diante Dele é o único poder que nos capacita a ser sempre humildes com os ho¬mens. Nossa humildade tem de ser a vida de Cristo, o Cordeiro de Deus, dentro de nós.
Que todos os mestres de santidade, quer no púlpito quer na plataforma, e todos os buscadores da santidade, quer em secreto quer na convenção, to¬mem cuidado. Não há orgulho tão perigoso, pois ne-nhum é tão sutil e traiçoeiro, como o orgulho da san¬tidade.
Não é que o homem sempre diga ou sempre pense: "Fique onde está; sou mais santo que você." Não, na verdade, esse pensamento é tratado com aver¬são. Mas lá cresce, inconscientemente, um hábito oculto da alma, que sente satisfação em seus feitos e não pode ajudar outros por ver quão avançada está em relação a eles. Isso pode ser percebido, não sempre numa especial auto-afirmação ou auto-exaltação, mas simplesmente na carência daquela profunda auto-hu-milhação que não pode ser senão a marca da alma que viu a glória de Deus (Jó 42.5,6; Is 6.5).
Isso revela a si mesmo, não apenas em palavras ou pensamentos, mas num tom, numa maneira de falar de outros, na qual aqueles que têm o dom de discernimento espiri¬tual não podem fazer outra coisa a não ser perceber o poder do ego. Até o mundo com seus olhos pene-trantes observa isso, e aponta para isso como uma prova de que o professar de uma vida celestial não produz nenhum fruto celestial especial. Oh! irmãos, vamos nos acautelar. A menos que façamos com que cada avanço no que pensamos ser santidade corresponda ao crescimento da humildade, percebe¬remos que temos nos deleitado em belos pensamen¬tos e sentimentos, em atos solenes de consagração e fé, enquanto a única marca segura da presença de Deus, o desaparecimento do ego, esteve o tempo todo ausente. Venham e vamos fugir para Jesus, e escon-der-nos Nele até que sejamos revestidos com Sua humildade. Somente isso é nossa santidade.


A ambição é miséria enfeitada, veneno secreto, pra¬ga oculta, executora do engano, mãe da hipocri¬sia, progenitora da inveja, o primeiro dos defei¬tos, ofensora da santidade e aquela que cega os corações, transformando medicamentos em do¬enças e remédios em males. Os lugares altos nun¬ca deixam de ser incômodos, e as coroas estão sempre repletas de espinhos.
(Thomas Brooks)
Quando procuramos honras, desviamo-nos de Jesus. (Hugh of St. Victor)

sábado, 6 de junho de 2009

A HUMILDADE NA VIDA DIÁRIA


A HUMILDADE NA VIDA DIÁRIA
Leitura: "Aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê" (1 João 4.20).

Que pensamento solene é este: que nosso amor a Deus será medido pelo nosso contato diá¬rio com os homens e o amor que Ele exibe; e que nosso amor a Deus será tido como uma desilu¬são, exceto quando sua verdade é provada nas situa¬ções de teste da vida diária com homens como nós. Também é assim com nossa humildade. E fácil pen¬sar em nos humilharmos diante de Deus, mas a hu¬mildade diante dos homens será a única prova sufici¬ente de que nossa humildade diante de Deus é real, de que a humildade tem feito sua morada em nós e torna-se nossa própria natureza, prova de que nós, na verdade, como Cristo, fizemos de nós mesmos pes¬soas sem reputação. Quando, na presença de Deus, a humildade de coração torna-se, não uma postura que assumimos por um tempo, quando pensamos Nele ou oramos a Ele, mas o próprio espírito de nossa vida, isso se manifestará em todo o "conduzir adian¬te" nossos irmãos. A lição é de profunda importância: a única humildade que é realmente nossa não é aque¬la que tentamos mostrar diante de Deus em oração, mas aquela que carregamos conosco, e sustentamos, em nossa conduta comum; as insignificâncias da vida diária são a importância e os testes da eternidade, pois elas provam qual é realmente o espírito que nos do-mina. É na maioria de nossos momentos desprotegidos que realmente mostramos e vemos o que somos. Para conhecer o homem humilde, para conhecer como o homem humilde se comporta, você tem de segui-lo na vida comum de seu dia-a-dia.
Não foi isso que Jesus ensinou? Quando os dis¬cípulos disputaram quem seria o maior, quando Ele viu como os fariseus amavam os primeiros lugares nos banquetes e os primeiros bancos nas sinagogas, quando Ele lhes deu o exemplo ao lavar-lhes os pés: aí Ele ensinou Suas lições de humildade. A humilda¬de diante de Deus não é nada se não for provada em humildade diante dos homens.
É também assim nos ensinamentos de Paulo. Aos romanos, ele escreveu: "Preferindo-vos em honra uns aos outros" (12.10); "Em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde" (12.16); "Não sejais sábios aos vossos próprios olhos" (12.16). Aos coríntios: "O amor", e não há amor algum sem a humildade como raiz, "não se ufana, não se ensoberbece, não procura os seus interesses, não se exaspera"(l Co 13:4, 5). Aos gálatas: "Sede servos uns dos outros, pelo amor. (...) Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros" (5.13,26). Aos efésios, imediatamente após três maravilhosos capítulos sobre a vida celestial: "Andeis (...) com toda humildade e man¬sidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos ou¬tros em amor" (4.2); "Dando sempre graças por tudo (...), sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo" (5.20,21). Aos filipenses: "Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. (...) Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Je¬sus, (...) a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, (...) e a si mesmo se humilhou" (2.3, 5, 7, 8) E aos colossenses: "Revesti-vos de ternos afetos de mi¬sericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, (...) assim como o Senhor vos perdoou" (3.12, 13). É em nossa relação uns com os outros, em nosso tratamento uns para com os outros, que a verdadeira humildade de mente e o coração de humildade serão vistos. Nossa humildade diante de Deus não tem valor, mas nos prepara para revelar a humildade de Jesus aos homens como nós. Vamos estudar a humilda¬de no viver diário à luz dessas palavras.
O homem humilde busca a todo tempo agir de acordo com a regra: "Em honra preferindo-vos uns aos outros; servos uns dos outros; considerando cada um os outros superiores a si mesmo; sujeitando-vos uns aos outros." A pergunta frequentemente feita é: "Como podemos considerar outros superiores a nós mesmos, quando vemos que eles estão muito abaixo de nós em sabedoria e santidade, em dons naturais ou em graça recebida?"
Esse assunto prova prontamente que entendemos muito pouco o que a real humildade de mente é. A verdadeira humildade vem quando, à luz de Deus, vi¬mos a nós mesmos como nada sendo, consentindo em desistir e nos desfazer de nós mesmos, para permitir que Deus seja tudo. A alma que fez isso e pode dizer: "Eu me perdi encontrando a Ti", não mais se compara com outros. Ela desistiu para sempre de todo pensa¬mento do ego na presença de Deus; ela encontra os homens comuns como alguém que não é nada e não busca nada para si mesmo; ela é um servo de Deus e, por causa Dele, um servo de todos. Um servo fiel pode ser mais sábio que o mestre e, ainda assim, conservar o verdadeiro espírito e postura do servo. O homem hu¬milde respeita cada filho de Deus, mesmo o mais débil e o mais indigno, e honra-o e o prefere em honra como o filho de um Rei. O espírito Daquele que lavou os pés dos discípulos faz com que nos seja, de fato, uma ale¬gria sermos os menores, sermos servos uns dos outros.
O homem humilde não sente ciúmes ou inveja. Ele pode louvar a Deus quando outros são preferidos e abençoados antes de ele ser. Ele pode suportar ou¬vir outros sendo louvados e ele sendo esquecido, pois na presença de Deus ele aprendeu a dizer como Pau¬lo: "Nada sou" (2 Co 2.11). Ele recebeu o espírito de Jesus — que não se agradou a Si mesmo e não buscou Sua própria honra — como o espírito de sua vida.
Entre o que são consideradas tentações para haver impaciência e irritação, para haver opiniões du¬ras e palavras bruscas, tentações que vêm de falhas e pecados de cristãos, o homem humilde carrega a de-terminação frequentemente repetida em seu coração, e mostra isso em sua vida: "Suportai-vos uns aos ou¬tros, perdoai-vos mutuamente, (...) assim como o Se¬nhor vos perdoou". Ele aprendeu que, revestindo-se do Senhor Jesus, ele se revestiu "de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade." Jesus tomou o lugar do ego, e não é uma impossibilidade perdoar como Jesus per¬doou. A humildade de Jesus não consiste meramente em opiniões ou palavras de auto-depreciação, mas, como Paulo coloca, "em um coração de humildade", cercado de compaixão e amabilidade, mansidão e longanimidade, a doce e humilde gentileza reconhe¬cida como a marca do Cordeiro de Deus.
Em esforçar-se por ter as experiências mais ele¬vadas da vida cristã, o crente está frequentemente sob o perigo de visar a e de se regozijar no que alguém pode chamar de a virtude mais humana e va-lorosa, como ousadia, alegria, desprezo ao mundo, zelo, auto-sacrifício — até mesmo os antigos estóicos ensinaram e praticaram isso -, enquanto as mais pro¬fundas e gentis, as mais divinas e mais celestiais gra¬ças, aquilo que Jesus primeiro ensinou sobre a terra, pois as trouxe do céu, aquilo que está mais evidente¬mente ligado à Sua cruz e com a morte do ego — pobreza de espírito, mansidão, humildade, modéstia — são raramente consideradas ou valorizadas. Portan¬to, vamos nos revestir de um coração de compaixão, bondade, humildade, mansidão, longanimidade, e va¬mos provar nossa semelhança com Cristo, não ape-nas em nosso zelo por salvar o perdido, mas antes de tudo em nosso relacionamento com os irmãos, suportando e perdoando uns aos outros, assim como o Senhor nos perdoou.
Companheiros cristãos, vamos estudar a imagem da Bíblia com respeito ao homem humilde. E vamos perguntar a nossos irmãos, e perguntar ao mundo, se eles reconhecem em nós a semelhança ao original. Vamos nos contentar com nada menos do que tomar cada um desses textos como a promessa do que Deus irá trabalhar em nós, como a revelação em palavras do que o Espírito de Jesus nos dará como um come¬ço dentro de nós. E vamos, em cada falha e fraqueza, simplesmente nos apressar em nos tornar humildes e mansos para o manso e humilde Cordeiro de Deus, na certeza de que onde Ele é entronizado no cora¬ção, Sua humildade e bondade serão uma das torren¬tes de água viva que fluem de dentro de nós .
Uma vez mais repito o que já havia dito antes. Sinto profundamente que temos muito pouca percep¬ção do que a Igreja sofre por causa da falta dessa humildade divina, o nada-ser que dá lugar para Deus provar Seu poder. Não faz muito tempo desde que um cristão, com um humilde e amável espírito, comu-nicou-se com não poucos pontos de missão de várias sociedades e expressou sua profunda tristeza, pois em alguns deles o espírito de amor e tolerância estava tristemente ausente. Homens e mulheres que, na Europa, poderiam escolher seu próprio círculo de amigos, acham difícil suportar e amar e manter a uni¬dade do Espírito no vínculo da paz por estar próxi¬mos de outros com mente incompatível. E aqueles que deveriam ter sido companheiros e ajudadores da alegria uns dos outros se tornaram um obstáculo e um enfado. E tudo pela única razão: a falta da humil¬dade que se considera nada, que se regozija em tornar-se e ser considerada como a menor, e busca ape¬nas, como Jesus, ser o servo, o auxiliar e confortador de outros, até dos mais fracos e mais indignos.
E como acontece de homens que têm alegre¬mente desistido deles mesmos por Cristo acharem tão difícil desistir deles mesmos por seus irmãos? Isso não é culpa da Igreja? Ela tem ensinado tão pou¬co a seus filhos que a humildade de Cristo é a primei¬ra das virtudes, a melhor de todas as graças e poderes do Espírito. Ela tem provado tão pouco que a humil¬dade de Cristo é o que ela, como Cristo, coloca e prega em primeiro lugar como o que é, de fato, necessário e possível também. Mas não vamos ficar desencorajados. Permitamos que a descoberta da au¬sência dessa graça nos mova para maior expectativa de Deus. Vamos respeitar todo irmão que nos tenta ou irrita como meio da graça de Deus, instrumento de Deus para nossa purificação, para nosso exercício da humildade que Jesus, nossa Vida, soprou para dentro de nós. E vamos ter tal fé no Tudo de Deus e no nada do ego para que, como nada aos nossos própri¬os olhos, no poder de Deus, busquemos somente ser¬vir uns aos outros em amor.


O orgulho alimenta a lembrança da ofensa - a humildade as esquece tanto quanto as perdoa.
(Robert C. Chapman)