sábado, 6 de junho de 2009

A HUMILDADE NA VIDA DIÁRIA


A HUMILDADE NA VIDA DIÁRIA
Leitura: "Aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê" (1 João 4.20).

Que pensamento solene é este: que nosso amor a Deus será medido pelo nosso contato diá¬rio com os homens e o amor que Ele exibe; e que nosso amor a Deus será tido como uma desilu¬são, exceto quando sua verdade é provada nas situa¬ções de teste da vida diária com homens como nós. Também é assim com nossa humildade. E fácil pen¬sar em nos humilharmos diante de Deus, mas a hu¬mildade diante dos homens será a única prova sufici¬ente de que nossa humildade diante de Deus é real, de que a humildade tem feito sua morada em nós e torna-se nossa própria natureza, prova de que nós, na verdade, como Cristo, fizemos de nós mesmos pes¬soas sem reputação. Quando, na presença de Deus, a humildade de coração torna-se, não uma postura que assumimos por um tempo, quando pensamos Nele ou oramos a Ele, mas o próprio espírito de nossa vida, isso se manifestará em todo o "conduzir adian¬te" nossos irmãos. A lição é de profunda importância: a única humildade que é realmente nossa não é aque¬la que tentamos mostrar diante de Deus em oração, mas aquela que carregamos conosco, e sustentamos, em nossa conduta comum; as insignificâncias da vida diária são a importância e os testes da eternidade, pois elas provam qual é realmente o espírito que nos do-mina. É na maioria de nossos momentos desprotegidos que realmente mostramos e vemos o que somos. Para conhecer o homem humilde, para conhecer como o homem humilde se comporta, você tem de segui-lo na vida comum de seu dia-a-dia.
Não foi isso que Jesus ensinou? Quando os dis¬cípulos disputaram quem seria o maior, quando Ele viu como os fariseus amavam os primeiros lugares nos banquetes e os primeiros bancos nas sinagogas, quando Ele lhes deu o exemplo ao lavar-lhes os pés: aí Ele ensinou Suas lições de humildade. A humilda¬de diante de Deus não é nada se não for provada em humildade diante dos homens.
É também assim nos ensinamentos de Paulo. Aos romanos, ele escreveu: "Preferindo-vos em honra uns aos outros" (12.10); "Em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde" (12.16); "Não sejais sábios aos vossos próprios olhos" (12.16). Aos coríntios: "O amor", e não há amor algum sem a humildade como raiz, "não se ufana, não se ensoberbece, não procura os seus interesses, não se exaspera"(l Co 13:4, 5). Aos gálatas: "Sede servos uns dos outros, pelo amor. (...) Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros" (5.13,26). Aos efésios, imediatamente após três maravilhosos capítulos sobre a vida celestial: "Andeis (...) com toda humildade e man¬sidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos ou¬tros em amor" (4.2); "Dando sempre graças por tudo (...), sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo" (5.20,21). Aos filipenses: "Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. (...) Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Je¬sus, (...) a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, (...) e a si mesmo se humilhou" (2.3, 5, 7, 8) E aos colossenses: "Revesti-vos de ternos afetos de mi¬sericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, (...) assim como o Senhor vos perdoou" (3.12, 13). É em nossa relação uns com os outros, em nosso tratamento uns para com os outros, que a verdadeira humildade de mente e o coração de humildade serão vistos. Nossa humildade diante de Deus não tem valor, mas nos prepara para revelar a humildade de Jesus aos homens como nós. Vamos estudar a humilda¬de no viver diário à luz dessas palavras.
O homem humilde busca a todo tempo agir de acordo com a regra: "Em honra preferindo-vos uns aos outros; servos uns dos outros; considerando cada um os outros superiores a si mesmo; sujeitando-vos uns aos outros." A pergunta frequentemente feita é: "Como podemos considerar outros superiores a nós mesmos, quando vemos que eles estão muito abaixo de nós em sabedoria e santidade, em dons naturais ou em graça recebida?"
Esse assunto prova prontamente que entendemos muito pouco o que a real humildade de mente é. A verdadeira humildade vem quando, à luz de Deus, vi¬mos a nós mesmos como nada sendo, consentindo em desistir e nos desfazer de nós mesmos, para permitir que Deus seja tudo. A alma que fez isso e pode dizer: "Eu me perdi encontrando a Ti", não mais se compara com outros. Ela desistiu para sempre de todo pensa¬mento do ego na presença de Deus; ela encontra os homens comuns como alguém que não é nada e não busca nada para si mesmo; ela é um servo de Deus e, por causa Dele, um servo de todos. Um servo fiel pode ser mais sábio que o mestre e, ainda assim, conservar o verdadeiro espírito e postura do servo. O homem hu¬milde respeita cada filho de Deus, mesmo o mais débil e o mais indigno, e honra-o e o prefere em honra como o filho de um Rei. O espírito Daquele que lavou os pés dos discípulos faz com que nos seja, de fato, uma ale¬gria sermos os menores, sermos servos uns dos outros.
O homem humilde não sente ciúmes ou inveja. Ele pode louvar a Deus quando outros são preferidos e abençoados antes de ele ser. Ele pode suportar ou¬vir outros sendo louvados e ele sendo esquecido, pois na presença de Deus ele aprendeu a dizer como Pau¬lo: "Nada sou" (2 Co 2.11). Ele recebeu o espírito de Jesus — que não se agradou a Si mesmo e não buscou Sua própria honra — como o espírito de sua vida.
Entre o que são consideradas tentações para haver impaciência e irritação, para haver opiniões du¬ras e palavras bruscas, tentações que vêm de falhas e pecados de cristãos, o homem humilde carrega a de-terminação frequentemente repetida em seu coração, e mostra isso em sua vida: "Suportai-vos uns aos ou¬tros, perdoai-vos mutuamente, (...) assim como o Se¬nhor vos perdoou". Ele aprendeu que, revestindo-se do Senhor Jesus, ele se revestiu "de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade." Jesus tomou o lugar do ego, e não é uma impossibilidade perdoar como Jesus per¬doou. A humildade de Jesus não consiste meramente em opiniões ou palavras de auto-depreciação, mas, como Paulo coloca, "em um coração de humildade", cercado de compaixão e amabilidade, mansidão e longanimidade, a doce e humilde gentileza reconhe¬cida como a marca do Cordeiro de Deus.
Em esforçar-se por ter as experiências mais ele¬vadas da vida cristã, o crente está frequentemente sob o perigo de visar a e de se regozijar no que alguém pode chamar de a virtude mais humana e va-lorosa, como ousadia, alegria, desprezo ao mundo, zelo, auto-sacrifício — até mesmo os antigos estóicos ensinaram e praticaram isso -, enquanto as mais pro¬fundas e gentis, as mais divinas e mais celestiais gra¬ças, aquilo que Jesus primeiro ensinou sobre a terra, pois as trouxe do céu, aquilo que está mais evidente¬mente ligado à Sua cruz e com a morte do ego — pobreza de espírito, mansidão, humildade, modéstia — são raramente consideradas ou valorizadas. Portan¬to, vamos nos revestir de um coração de compaixão, bondade, humildade, mansidão, longanimidade, e va¬mos provar nossa semelhança com Cristo, não ape-nas em nosso zelo por salvar o perdido, mas antes de tudo em nosso relacionamento com os irmãos, suportando e perdoando uns aos outros, assim como o Senhor nos perdoou.
Companheiros cristãos, vamos estudar a imagem da Bíblia com respeito ao homem humilde. E vamos perguntar a nossos irmãos, e perguntar ao mundo, se eles reconhecem em nós a semelhança ao original. Vamos nos contentar com nada menos do que tomar cada um desses textos como a promessa do que Deus irá trabalhar em nós, como a revelação em palavras do que o Espírito de Jesus nos dará como um come¬ço dentro de nós. E vamos, em cada falha e fraqueza, simplesmente nos apressar em nos tornar humildes e mansos para o manso e humilde Cordeiro de Deus, na certeza de que onde Ele é entronizado no cora¬ção, Sua humildade e bondade serão uma das torren¬tes de água viva que fluem de dentro de nós .
Uma vez mais repito o que já havia dito antes. Sinto profundamente que temos muito pouca percep¬ção do que a Igreja sofre por causa da falta dessa humildade divina, o nada-ser que dá lugar para Deus provar Seu poder. Não faz muito tempo desde que um cristão, com um humilde e amável espírito, comu-nicou-se com não poucos pontos de missão de várias sociedades e expressou sua profunda tristeza, pois em alguns deles o espírito de amor e tolerância estava tristemente ausente. Homens e mulheres que, na Europa, poderiam escolher seu próprio círculo de amigos, acham difícil suportar e amar e manter a uni¬dade do Espírito no vínculo da paz por estar próxi¬mos de outros com mente incompatível. E aqueles que deveriam ter sido companheiros e ajudadores da alegria uns dos outros se tornaram um obstáculo e um enfado. E tudo pela única razão: a falta da humil¬dade que se considera nada, que se regozija em tornar-se e ser considerada como a menor, e busca ape¬nas, como Jesus, ser o servo, o auxiliar e confortador de outros, até dos mais fracos e mais indignos.
E como acontece de homens que têm alegre¬mente desistido deles mesmos por Cristo acharem tão difícil desistir deles mesmos por seus irmãos? Isso não é culpa da Igreja? Ela tem ensinado tão pou¬co a seus filhos que a humildade de Cristo é a primei¬ra das virtudes, a melhor de todas as graças e poderes do Espírito. Ela tem provado tão pouco que a humil¬dade de Cristo é o que ela, como Cristo, coloca e prega em primeiro lugar como o que é, de fato, necessário e possível também. Mas não vamos ficar desencorajados. Permitamos que a descoberta da au¬sência dessa graça nos mova para maior expectativa de Deus. Vamos respeitar todo irmão que nos tenta ou irrita como meio da graça de Deus, instrumento de Deus para nossa purificação, para nosso exercício da humildade que Jesus, nossa Vida, soprou para dentro de nós. E vamos ter tal fé no Tudo de Deus e no nada do ego para que, como nada aos nossos própri¬os olhos, no poder de Deus, busquemos somente ser¬vir uns aos outros em amor.


O orgulho alimenta a lembrança da ofensa - a humildade as esquece tanto quanto as perdoa.
(Robert C. Chapman)

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