domingo, 31 de maio de 2009

A HUMILDADE NOS DISCÍPULOS DE JESUS


Leitura:"O maior entre vós seja como o menor;
e aquele que dirige seja como o que serve "
(Lucas 22.26).

Estudamos a humildade na pessoa e ensinamento de Jesus; vamos agora procurá-la no círculo de Seus companheiros escolhidos: os doze apóstolos. Se, na carência da humildade que achamos neles, o contraste entre Cristo e os homens é tornado mais claro, isso irá nos ajudar a apreciar a poderosa mudança que o Pentecoste fez neles, e prova quão real pode ser nossa participação no triunfo perfeito da humildade de Cristo sobre o orgulho que Satanás soprou para dentro do homem. Nos textos citados do ensinamento de Jesus, já vimos quais foram as ocasiões nas quais os discípulos provaram quão destituídos estavam com relação à gra¬ça da humildade. Uma vez, eles estavam disputando pelo caminho qual deles seria o maior. Outra vez, os filhos de Zebedeu com sua mãe pediram pelos pri¬meiros lugares, sentar à direita e à esquerda do Se¬nhor. E mais tarde, na Santa Ceia, na última noite, houve novamente uma contenda sobre quem seria conside¬rado como o maior. Não que não tenha havido mo¬mentos em que eles realmente se humilharam diante do Senhor. Aconteceu com Pedro quando ele disse: "Senhor, retira-Te de mim, porque sou pecador" (Lc 5.8). E também com os discípulos, quando eles caíram em terra e adoraram o Senhor que havia acalmado a tempestade. Mas essas expressões ocasionais de hu-mildade são apenas um forte contraste em relação ao que era o tom habitual de sua mente, como mostrado na revelação natural e espontânea do lugar e poder do ego dada em outras vezes. O estudo do significado de tudo isso nos ensinará lições mais importantes.
Primeiro, quanto pode haver de religião enérgica e ativa enquanto a humildade ainda é tristemente ausente. Veja isso nos discípulos. Havia neles uma atração intensa por Jesus. Eles haviam abandonado tudo por Ele. O Pai lhes havia revelado que Ele era o Cristo de Deus. Eles creram Nele, eles O amaram, eles obedeceram a Seus mandamentos. Eles abandonaram tudo para seguir o Senhor. Quando outros retrocederam, eles se separaram para o Senhor. Eles estavam prontos para morrer com Ele. Mas mais profundo que tudo isso, havia um poder das trevas, de cuja existência e horribilidade eles raramente estavam conscientes, que de¬veria ser morto e expulso antes que eles pudessem ser as testemunhas do poder de Jesus para salvar.
E ainda é assim. Podemos achar professores e ministros, evangelistas e obreiros, missionários e mes¬tres, em quem os dons do Espírito são muitos e ma¬nifestos, e são canais de bênção para multidões, mas em quem, quando o tempo de testes vem ou uma comunhão mais próxima permite-nos conhecê-los mais plenamente, é apenas dolorosamente óbvio que a graça da humildade, como característica permanen¬te, é raramente vista. Tudo tende a confirmar a lição de que a humildade é uma das principais e supremas graças, uma das mais difíceis de se obter, algo para o que nossos primeiros e principais esforços têm de ser direcionados, algo que vem somente em poder quando a plenitude do Espírito nos faz participantes do Cristo que habita e vive dentro de nós.
Segundo, quão impotentes são todos os ensinamentos externos e esforços pessoais, para vencer o orgulho ou dar o coração manso e humilde. Durante três anos os discípulos estiveram na escola de treinamento de Jesus. Ele lhes disse qual era a lição principal que desejava ensinar-lhes: "Aprendei de Mim, pois sou humilde e manso de coração".
Repetidamente Ele falava a eles, aos fariseus, à multidão, da humildade como o único caminho para a glória de Deus. Ele não tinha apenas vivido diante de¬les como o Cordeiro de Deus em Sua humildade divi¬na; Ele lhes expôs, mais de uma vez, o íntimo segredo de Sua vida: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir"; "Estou entre vós como aque¬le que serve." Ele lavou os pés dos discípulos e lhes disse para seguir Seu exemplo. E tudo isso foi de pou¬co proveito. Na Santa Ceia ainda houve contenda quanto a qual deles seria o maior. Sem dúvida, eles tentaram muitas vezes aprender Suas lições, e firmemente re¬solveram não ofendê-lo novamente. Mas tudo em vão.
Isso deveria ensiná-los e a nós a lição mais ne¬cessária de que nenhuma instrução exterior, nem mes¬mo a dada pelo próprio Cristo; nenhum argumento, por mais convincente que seja; nenhuma percepção da beleza da humildade, por mais profunda que seja; nenhuma decisão pessoal ou esforço, por mais since¬ro e sério que seja, pode expulsar o mal do orgulho. Quando Satanás expulsa Satanás, isso serve apenas para introduzir novamente um poder mais forte, ain¬da que mais oculto. Nada pode ser útil, a não ser isto: que a nova natureza em sua divina humildade seja revelada em poder para tomar o lugar da velha, para tornar nossa natureza tão verdadeira como nunca foi. Terceiro, é apenas pelo habitar de Cristo em Sua divi¬na humildade que nos tornamos verdadeiramente humildes. Temos nosso orgulho que veio de outro, de Adão; temos de ter nossa humildade também de Outro. O orgulho é nosso e governa em nós com seu mui terrí¬vel poder, porque isso é nosso próprio ser, nossa própria natureza. A humildade tem de ser nossa da mesma maneira; ela tem de ser nosso próprio ser, nossa própria natureza. Tão natural e fácil como é ser orgulhoso, tem de ser, e será, ser humilde. A promes¬sa é: "Onde", até mesmo no coração, "abundou o pecado, superabundou a graça".
Todo ensinamento de Cristo aos Seus discípu¬los, e todo esforço inútil deles, foram a preparação necessária para o Senhor entrar neles em poder divi¬no, para dar e ser neles o que Ele os havia ensinado a desejar. Em Sua morte Ele destruiu o poder do mal, Ele afastou o pecado, Ele consumou um redenção eterna. Em Sua ressurreição, Ele recebeu do Pai uma vida completamente nova, a vida de homem revigora¬da pelo poder de Deus, capaz de ser transmitida aos homens, e entrar e renovar e preencher a vida deles com Seu divino poder. Em Sua ascensão Ele recebeu o Espírito do Pai, por meio de quem fez o que não poderia ter feito enquanto sobre a terra: tornar-se um com aqueles que amou; na verdade, viver a vida de¬les por eles, para que pudessem viver diante do Pai em humildade como Ele, pois era Ele quem vivia e respirava neles. E no Pentecoste Ele veio e tomou posse. O trabalho de preparação e persuasão, o des¬pertar do desejo e esperança que Seu ensinamento efetuou, foi aperfeiçoado pela poderosa mudança que fez o Pentecoste. E a vida e epístolas de Tiago, Pedro e João trazem a evidência de que tudo mudou, e de que o espírito do manso e sofredor Jesus havia, de fato, se apoderado deles.
O que podemos dizer dessas coisas? Entre meus leitores, tenho certeza de que há mais de um tipo de pessoa. Deve haver alguns que nunca pensaram ain¬da muito especialmente sobre o assunto, e não po¬dem perceber, de uma vez, sua imensa importância como uma questão de vida para a Igreja e para todos os seus membros. Há outros que se sentiram conde¬nados por suas fraquezas, e se esforçaram, apenas para falhar e ser desencorajados. Outros podem ser capazes de dar alegres testemunhos de bênção e po¬der espirituais, e ainda assim nunca ter havido a con-vicção necessária, a qual aqueles à sua volta perce¬bem ainda estar ausente. E ainda outros podem ser capazes de testemunhar que, no que diz respeito a essa graça, o Senhor deu libertação e vitória, mesmo enquanto Ele os ensinava quanto ainda precisavam da plenitude de Jesus e podiam esperar por ela. Não importando a que classe pertençamos, devo frisar a urgente necessidade que há para toda nossa busca de uma profunda convicção do lugar único que a humildade possui na religião de Cristo , e a absoluta im¬possibilidade de a Igreja ou de o crente ser o que Cristo gostaria que eles fossem, enquanto Sua humil¬dade não é reconhecida como Sua principal glória, Seu primeiro mandamento e nossa mais elevada bênção. Vamos conside¬rar profundamente quão longe os discípulos haviam conseguido ir enquanto essa graça estava ainda tão terrivelmente ausente, e vamos orar a Deus para que somente outros dons não nos satisfaçam, para que nunca nos apeguemos ao fato de que a ausência des¬sa graça é o segredo pelo qual o poder de Deus não pode fazer sua poderosa obra. É somente ali que nós, como o Filho, verdadeiramente sabemos e mos¬tramos que nada podemos fazer por nós mesmos e Deus fará tudo.
É quando a verdade de um Cristo que habita interiormente toma o lugar pelo qual ela clama na experiência dos crentes que a Igreja colocará suas belas vestes e a humildade será vista em seus mestres e membros como a beleza da santidade.

O crente em união com Deus descansa dos argumen¬tos. É difícil para a alma reprimir a argumentação enquanto está alienada de Deus. Ela argumenta porque perdeu o Deus da razão. O crente verda¬deiramente restaurado cessa da argumentação vi¬ciosa e complicada da natureza. A verdadeira sa¬bedoria é desejar conhecer tudo aquilo que Deus deseja que conheçamos; é empregar nossa facul¬dade de percepção e raciocínio sob a direção divi¬na e não buscar nada além deste limite. Você que busca a verdade: tendo exercitado sua razão até descobrir que não existe paz nela, descanse no Deus da razão. O que você não sabe, Deus sabe. Ande com os olhos vendados e Deus, com Sua mão, guiará você.
(T. C. Upham)

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