terça-feira, 8 de setembro de 2009

ESTÁ FEITO PARA SER FEITO!


Feito para que seja algo que cresça para ser meu próprio ser...
Jesus. Sim, somente Jesus!
Olho para mim como homem, e digo: somente Jesus.
Meu olhar de homem me mostra minha deformidade e minha incapacidade de ser como o Homem Jesus.
Sou discípulo Dele, busco andar como Ele andou, anseio por fazer o entendimento do Evangelho uma plenitude que domine todo o meu ser. Entretanto, eu não sou homem como Jesus. Por isto, como Paulo, estou tendo sempre que desistir de coisas que para trás ficam; e também de quem eu mesmo sou contra o que Nele já sou. Entretanto, mesmo assim, não sou como Jesus.
Um dia serei como Jesus; porém eu mesmo jamais serei como Jesus. Serei completamente como Ele é, quando o que em mim é mortal e animal for totalmente absorvido pela Vida Eterna; ou quando eu ganhar um corpo celestial. Assim, serei como Jesus porque Ele me fará ser como Ele; e não porque eu consegui me tornar como Ele.
Enquanto isto, em meio às minhas próprias indiosincrasias, confio que Nele já sou o que ainda serei.
Nele eu sou como Ele. Fora Dele, divorciado de Sua Graça pela descrença ou pela justiça própria — sou este mamífero humano tentando olhar perdidamente para o Nada. Falo de mim. Outros, entretanto, fora Dele, embora dentro da “religião” supostamente Dele, sem que saibam que Dele estão separados por duas próprias justiças ou descrenças, experimentam existencialmente o divórcio com a Graça como pânico, medo, juízo, ou ainda como certeza de castigo.
Eu, porém, sei que nunca NÃO estarei Nele. E isto não porque O siga como quem se fez igual a Ele no andar e no ser, mas exclusivamente pela confiança de que eu posso até ser infiel a Ele (e sou de muitas formas e maneiras; especialmente no coração e no trato das sutilezas da existência), que Ele próprio continuará fiel a mim; e isto exclusivamente porque Ele não pode desistir do pacto da aliança que comigo fez no Filho; portanto, Nele mesmo.
Ele jurou e não se arrependerá. Ele não pode ser infiel a mim, pois, se o fosse, implodiria como Deus; pois estaria negando a Si mesmo; estaria dês-sendo Deus.
Eu, todavia, acerca de quem Paulo diz que mesmo sendo infiel continuo objeto da fidelidade Dele, não posso, entretanto, negá-Lo. Se o negar, Ele por Sua própria vez me negará. Dirá que não me conhece.

E quando é que o nego?

Ora, num certo sentido eu o nego o tempo todo; isto porque minha existência não consegue encarnar em plenitude aquilo que confessa como entendimento e verdade; seja em meus sentimentos; seja em meus humores para com a existência; seja em meu próprio ser-profundo.
Posso não negá-Lo com a boca, mas, certamente, sempre que ando contra o entendimento do Evangelho em relação ao meu próximo; ou em qualquer que seja o sentir e pensar em relação à vida, e que em mim aconteça de forma contrária ao que sei ser o Modo Dele — O estou negando!
Então, como posso ser infiel e ainda assim continuar objeto de Sua fidelidade, enquanto se diz que se eu o negar, Ele me negará? Sim, como pode ser isto se eu também o nego com a vida?

O que significa não negar Aquele que é fiel aos infiéis, mas que nega aos que O negam?
Para mim, salvo entendimento completamente equivocado (Deus me livre!), esse negar que provoca a negação de Deus, é a descrença no que Jesus fez e realizou por nós; descrença essa que não é medida por confissões verbais de natureza doutrinária; mas sim pela confiança que nós mesmos venhamos a ter acerca de nossa justiça-própria. Sim, nega a Jesus não quem, em sinceridade, busca andar como Ele andou e nem sempre consegue isto conforme já entendeu; mas sim Aquele que em razão disso se diz “afastado” Dele; pois, nesse caso, não se está confiando na fidelidade Dele para conosco, mas na nossa fidelidade para com Ele; e, assim, afirmando que quem banca a nossa própria relação com Deus somos nós mesmos; fazendo-nos, desse modo, descrentes da Cruz; e, além disso, tomados pela presunção de que somos o deus de Deus; pois, quem assim pensa e sente, nunca creu e nunca descansou na fidelidade de Deus; e nem tampouco confiou em Sua Palavra; ou em Seu próprio Juramento feito em Cristo, o qual diz que aquele que Nele crer, TEM a vida eterna e TEM o Deus da Vida; e é somente porque pela fé o TEMOS que pela fé SOMOS DELE. Nesse caso, não apenas o temos e somos Dele, mas se diz que “Ele vive em mim!”
Ora, tudo isto nada tem a ver com nossas contabilidades de erros e acertos; as quais sempre são presunçosas e mal malcriadas como a fala do Irmão Mais Velho do Filho Pródigo, o qual brigou com o Pai por não concordar com Seu amor e perdão para com o Irmão.
Portanto, também se O nega quando não concordamos com a Graça Dele em favor de qualquer que seja o outro ser humano!
Nada significa um desacordo maior com Deus do que ter raiva de Seu amor e de Seu perdão!
Afinal, o princípio inteiro da Graça opera no sentido de que quem foi perdoado, perdoe; e quem foi objeto de misericórdia, se torne misericordioso; e quem sabe que é infiel-no-próprio-ser, mais ainda ande em amor (ou então diga que “nem todos pecaram”, por isto “nem todos carecem da glória de Deus”) — pois quando não se consegue amar de modo pleno a fim de nunca transgredir, deve-se pelo menos ter amor e misericórdia para com todo aquele que, como nós mesmos, é apenas um pecador já salvo da morte buscando andar conforme a Vida.
Ora mesmo quando o outro (próximo) não manifesta qualquer desejo de Vida, ainda assim tem-se que amá-lo na medida da consciência do amor e do perdão que, como inimigos de Deus, recebemos de modo unilateral da parte Dele antes de qualquer coisa; posto que ninguém sabia, quando aquela Cruz era erguida, que “ali” Deus mesmo estava se reconciliando de modo unilateral com todo o mundo; conforme Paulo.
Afinal, todos nós ainda éramos completamente inimigos de Deus, tanto no nosso entendimento, como também em nosso próprio ser e suas variadas frutificações, quando Ele se reconciliou conosco em Cristo.
Sem tal certeza em fé, até a nossa busca de auto-justificação pela via da justiça-própria, aparece como fruto do mal que brota de nós; pois crê que do próprio homem pode eclodir aquilo que o faz próprio, justo e humano aos olhos de Deus.
Entre-tanto, digo: Não sou como Jesus, embora, em Jesus, já seja como Ele!
Toda-via, ainda existe esse hiato que acontece entre o “não sou como Ele” e “já sou Nele”. Esse hiato é a presente existência; é o dia de hoje. Por essa razão pergunto: Como viver o que desejo ser, se de mim mesmo não consigo ser?
O que o Evangelho ensina é que nesse hiato o que tem de existir é um caminhar descansado e, ao mesmo tempo, confiante no que já Está Feito e finalizado em nosso favor. Afinal, só se pode começar a provar o amor de Deus como bem que nos vai curando a alma e todo o ser, se, de início, já nos virmos mortos em Cristo.
Somente aquele que, pela fé, se entrega à morte em Cristo, é que começa a andar o caminho do discípulo; vereda na qual se mortifica a nossa própria natureza, mas sem neurose de auto-justiça; bem como se vai encontrando o caminho Estreito da Vida em nossa própria existência. Ora esse Caminho é a entrega de nossa consciência ao Evangelho, concordando com Deus pela fé.
Neste ponto a tendência humana é escolher pólos.
Sim, porque há aqueles que enganam-se julgando que o que Está Feito em Cristo não tem necessidade de se tornar realidade em nós desde hoje; ainda que saibamos que tudo isto é um processo. Para esses o que Está Feito não é para se tornar Feito, crescentemente, neles mesmos; e isto à partir do Dia Chamado Hoje.
De outro lado, há aqueles que pensam que receberam de Deus uma ajuda para começar, mas que daí para frente tudo o mais depende deles mesmos; e, assim, voltam ao ponto de onde haviam saído; ou seja: à sua própria justiça, anulando, desse modo, para si mesmos, a paz com Deus, mediante a qual o ser pode ter tranquilidade para ser sem arrogância pessoal.
O Caminho terreno desse andar no Hiato, busca chegar àquele ponto de compreensão, em fé, no qual Tudo Já Está Feito para ser Realidade Crescente em nós!
Ora, sem que se desista de si mesmo pela confiança no fato de que já morremos em e com Cristo, jamais poderemos morrer para nós mesmos sem que isto não seja um morrer-virtuoso, e, portanto, possuído de justiça própria. Sim, até para poder morrer para minha própria disposiç ão mental essencialmente contrária ao Evangelho (nosso ser não tem prazer natural no Evangelho; amá-lo é dom de Deus!) — eu tenho antes que já estar morto em Cristo. Do contrário, até a busca de me negar a mim mesmo a fim de seguí-Lo, se não for porque Nele eu já estou-feito, não gerará nada além de um esforço que não produz a justiça de Deus em mim; e, nem tampouco, me salva de minha própria disposição mental reprovável; posto que esta se alimenta sempre de minhas próprias certezas independentes da Graça.
Desse modo se pode dizer que nossas justiças próprias, ou o seu oposto, que é o nosso descaso por toda e qualquer justiça — sempre nascem de nossa própria presunção. Porém, em ambos os casos, o que habita o solo de nosso ser é a incredulidade.
Desse modo, até para morrer e ter vida, já tenho que estar morto pela fé, a fim de que qualquer que seja o ato praticado por mim mesmo, permaneça como fruto da Graça em mim; e não como graça minha para satisfazer as demandas aflitas de um Deus justiceiro.
É somente depois de dizer que morreu pela fé com e em Cristo, e que também Nele e com Ele ressuscitou — é que Paulo nos diz: “Cristo vive em mim!”
Ora, Paulo completa dizendo: “E este viver que agora vivo na carne; vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou; e a si mesmo se entregou por mim”.
Assim, até aquilo que parece depender de mim, nada tem a ver comigo; mas tão somente tem a ver com o Filho de Deus que me amou, e que se entregou por mim. Ora, sem tal confiança e certeza em fé, tudo o que eu faça — e tenho muito para fazer, conforme o Evangelho — deixa de ser o que, estando eu em Cristo, é; e passa a ser justamente aquilo que não é; pois, o que quer que eu faça, se não o fizer pela fé no Filho de Deus, mesmo que eu realize como ato exterior de bondade, todavia, para Deus, não é.
De fato só é para Deus aquilo que é feito em fé. E é a fé no fato-existencial de que “Cristo vive em mim” o que me pode fazer ser e fazer sem que tais feitos sejam contra mim.
Afinal, se sem amor nada aproveitará, também sem que Cristo viva em mim nenhuma boa ação que pretenda ser feito-meu, tem qualquer sentido para Deus. Pois se só posso agradar a Deus em Cristo, também só posso viver e crescer em Deus se o fizer pela fé no Filho de Deus.

Está Feito para que seja Feito!

Está Feito antes da fundação do mundo, pois Deus sempre faz antes que a coisa seja!

É por esta razão que eu já sou, embora eu mesmo ainda não seja. Afinal, o mundo está sendo criado em mim; em Cristo!

Assim, Está Feito para que seja algo que cresça para ser meu próprio ser; e isto não começa depois da morte física, mas sim agora, com a morte de minhas presunções; e, sobretudo, com minha decisão de viver por amor ao Filho de Deus que vive em mim. Somente Nele as minhas obras boas aparecem como Graça. Do contrário, elas se tornam a minha própria arrogância.

Jesus. Sim, somente Jesus!

Nele, que me amou e me ama; e sobretudo, que vive em mim — busco ser para Ele o que Nele já sou; pois Ele vive em mim; e é de Sua vida em mim que me vem o poder para ser e viver!

Caio

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