quarta-feira, 15 de julho de 2009

HUMILDADE E ALEGRIA



Leitura: "De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas (...) Porque quando sou fraco, então, é que sou forte" (2 Coríntios 12.9,10).

Com receio de que Paulo pudesse exaltar-se a si mesmo, por causa da excessiva grandiosidade das revelações, um espinho na carne foi envi¬ado para mantê-lo humilde. O primeiro desejo de Pau¬lo foi que o espinho fosse removido, e suplicou ao Senhor por três vezes que o espinho o deixasse. A resposta que veio foi que o sofrimento ou era uma bênção: que, na mansidão e humilhação que ele havia trazido, a graça e a força do Senhor poderiam ter sua melhor manifestação. Paulo, então, entrou em um novo estágio em sua relação com o sofrimento: em vez de simplesmente tolerá-lo, de boa vontade gloriava-se nele; em vez de pedir pela libertação, teria prazer nele. Pau¬lo havia aprendido que o lugar de humilhação é o lugar de bênção, de poder, de alegria.
Todo cristão possivelmente passa por esses dois estágios em sua busca de humildade. Primeiro, ele teme e foge e busca libertação de tudo o que possa humilhá-lo. Ele ainda não aprendeu a buscar humil-dade a qualquer custo. Ele aceitou a ordem para ser humilde, e busca obedecer, ainda que somente para descobrir quão completamente falha. Ele ora por hu¬mildade, às vezes muito seriamente; mas no seu cora¬ção, em secreto, ele ora mais — se não em palavras, em desejo — para ser livrado das coisas que irão fazê-lo humilde. Ele não está tão apaixonado pela humil¬dade como a beleza do Cordeiro de Deus e a alegria dos céus, a ponto de vender tudo para obtê-la. Em sua busca pela humildade, e em sua oração por isso, ainda há algo de um sentimento de fardo e de cativei¬ro; humilhar-se ainda não se tornou a expressão es¬pontânea de uma vida e natureza que são essencial¬mente humildes. Ainda não se tornou sua alegria e único prazer. Ele não pode dizer: "De boa vontade me gloriarei na fraqueza, tenho prazer no que quer que me humilhe".
Mas podemos esperar alcançar o estágio no qual isso ocorrerá? Sem dúvida alguma. E o que nos levará até lá? O que levou Paulo: uma nova revelação do Senhor Jesus. Nada a não ser a presença de Deus pode revelar e banir o ego. Uma percepção interior clara estava para ser dada a Paulo em relação à profunda verdade de que a presença de Jesus irá expulsar todo desejo de buscar qualquer coisa em nós mesmos, e nos fará de¬leitar em toda humilhação que nos prepara para Sua plena manifestação. Nossas humilhações nos levam, na experiência da presença e poder de Jesus, a escolher a humildade como nossa maior bênção. Vamos tentar aprender as lições que a história de Paulo nos ensina.
Podemos ter crentes espiritualmente avançados, mestres eminentes, homens de experiências celestiais, que ainda não aprenderam a lição da perfeita humil¬dade, alegremente se gloriando na fraqueza. Vemos isso em Paulo. O perigo de exaltar-se estava chegan-do muito perto. Ele ainda não sabia perfeitamente o que era ser nada, morrer, para que Cristo pudesse viver nele, e a ter prazer em tudo o que o trouxesse para baixo. É como se isto fosse a maior lição que ele tinha de aprender: plena conformidade ao seu Se¬nhor naquele auto-esvaziamento em que ele se glori¬ava na fraqueza a fim de que Deus pudesse ser tudo.
A mais alta lição que um crente tem de apren¬der é a humildade. Oh, que todo cristão que busca avançar na santidade lembre-se bem disso! Pode ha¬ver intensa consagração, zelo fervoroso e experiên¬cia celestial, e, ainda assim, se tais experiências não forem impedidas por procedimentos especiais do Se¬nhor, pode haver uma inconsciente auto-exaltação com isso tudo. Vamos aprender a lição: a mais alta santida¬de é a mais profunda humildade; e vamos lembrar que ela não vem de si mesma, mas somente quando é feita um assunto de tratamento especial da parte de nosso fiel Senhor e Seu servo fiel .
Vamos olhar para nossa vida à luz dessa experi¬ência, e ver se de boa vontade nos gloriamos na fra¬queza, se temos prazer, como Paulo tinha, em injúri¬as, em necessidades, em aflições. Sim, vamos per¬guntar se temos aprendido a considerar uma repro¬vação, justa ou injusta, uma repreensão de um amigo ou inimigo, uma injúria ou problema, ou dificuldade que outros nos trazem, como, acima de tudo, uma oportunidade de provar como Jesus é tudo para nós, como nosso próprio prazer e honra são nada e como a humilhação é, em verdade, no que temos prazer. Ser, de fato, abençoado, a profunda alegria dos céus, é estar tão livre do ego que o que for dito de nós ou feito a nós é perdido e tragado no pensamento de que Jesus é tudo. Vamos confiar Nele, que se encarregou de Pau¬lo, para que se encarregue de nós também. Paulo pre¬cisava de especial disciplina e, com isso, de especial instrução, para aprender o que era mais precioso até do que as coisas inexprimíveis que ele tinha ouvido nos céus, que é gloriar-se em fraqueza e humildade. Precisamos disso, também, oh, muito! Ele que cuidou de Paulo cuidará de nós também. Ele zela por nós com um cuidado ciumento e amoroso, "a fim de que não nos exaltemos". Quando fazemos isso, Ele busca desvendar o mal para nós e nos libertar dele. Em sofrimento e fraqueza e problemas, Ele busca nos trazer para baixo, até que aprendamos que Sua graça é tudo, assim como para ter prazer nas próprias coisas que nos trazem para baixo e nos mantêm em baixo. Seu poder se aperfeiçoa em nossa fraqueza e Sua pre¬sença, enchendo e satisfazendo nosso vazio, se torna o segredo de uma humildade que não deve falhar nun¬ca, que pode, como Paulo fez, em plena visão do que Deus trabalha em nós e por nosso intermédio, sem¬pre dizer: "Em nada fui inferior a esses tais apóstolos, ainda que nada sou" (2 Co 12.11). Suas humilhações o levaram à verdadeira humildade, com o maravilhoso deleite e glória e prazer em tudo o que humilha.
"De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fra¬quezas, para que sobre mim repouse o poder de Cris¬to. Pelo que sinto poder nas fraquezas." O homem humilde aprendeu o segredo da alegria permanente. Quanto mais fraco se sente, quanto mais baixo se afun¬da, quanto maiores parecem suas humilhações, mais o poder e a presença de Cristo são sua porção — até, a ele, que nada é, a palavra de seu Senhor trazer conti¬nuamente profunda alegria: "A minha graça te basta".
Sinto como se tivesse, uma vez mais, de reunir tudo nas duas lições: o perigo do orgulho é maior e está mais próximo do que pensamos, e a graça para humildade também.
O perigo do orgulho é maior e está mais perto do que pensamos, e isso especialmente no tempo de nossas mais elevadas experiências. O pregador de verdades espirituais com uma admirável congregação ouvindo-o atentamente, o orador dotado em uma plataforma de santidade expondo os segredos da vida celestial, o cristão dando testemunho de uma experiência aben¬çoada, o evangelista andando como em triunfo , e tra¬zendo uma bênção para alegrar as multidões — ne¬nhum homem conhece o oculto, o inconsciente peri¬go ao qual estes estão expostos. Paulo estava em peri¬go sem conhecer isso; o que Jesus fez por ele foi escrito para nossa admoestação, para que conheçamos o perigo para nós e conheçamos nossa única salvação.
Se já foi dito de um mestre ou um professor de santi¬dade: "Ele é tão cheio do ego", ou: "Ele não pratica o que prega", ou: "Sua bênção não fez dele alguém mais humilde ou bondoso", que isso não mais seja dito. Jesus, em quem confiamos, pode fazer-nos humildes.
Sim, também a graça para a humildade é maior e está mais perto do que pensamos. A humildade de Jesus é nos¬sa salvação: o próprio Jesus é nossa humildade. Nos¬sa humildade é Seu cuidado e Sua obra. Sua graça é suficiente para nós, para opor-se à tentação do orgu¬lho também. Seu poder será aperfeiçoado em nossa fraqueza. Vamos escolher ser fracos, ser humildes, ser nada. Permitamos que a humildade seja nossa ale¬gria e deleite. Vamos, de boa vontade, nos gloriar e ter prazer em fraquezas, em tudo o que possa nos humilhar e nos manter quebrantados — o poder de Cristo descansará sobre nós. Cristo se humilhou e, por isso, Deus O exaltou. Cristo nos humilhará e nos manterá humildes; vamos consentir de coração, va¬mos aceitar confiadamente e alegremente tudo o que humilhe — o poder de Cristo descansará sobre nós.
Vamos descobrir que a mais profunda humildade é o segredo da mais confiável alegria, de uma alegria que nada pode destruir.
É uma fé defeituosa aquela que obstrui os pés e causa muitas quedas.' Acho que esta última frase está bem de acordo com o que eu penso. Quero viver para deixar meu amado Salvador operar em mim a Sua vontade, a minha santificação pela Sua gra¬ça. 'Habitar Nele', não lutar e debater-me, erguer a Ele os olhos; confiar Nele para ter poder no pre-sente (...) descansar no amor do Salvador onipotente, no gozo de uma salvação completa 'de todo pecado' - isto não é novo, mas é novo para mim. Sinto como se o raiar de um glorioso dia viesse sobre mim. Saúdo-o com tremor, embora com confiança. Pareço ter chegado até a margem so¬mente; porém, é a beira de um mar sem limites; só provei uma gota, mas de algo que satisfaz completamente. Cristo é literalmente tudo para mim, agora, o poder, o único poder para o serviço, o único fundamento para a alegria inalterável.
Então, como fazer para que a fé cresça? É só pensar em tudo o que Jesus é e em tudo o que Ele é para nós: Sua vida, Sua morte, Sua obra, Sua pessoa revelada a nós na Palavra — para ser assunto constante de nossa meditação. Não uma luta para consseguir a fé, e sim, a contemplação Daquele que é fiel — parece ser esta a única coisa que nos é necessária: descansar inteiramente no Bem-Amado, no tempo e na eternidade.
(Hudson Taylor)

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